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Edson Eustaquio da Silva

1947 - 2021

No país do futebol, ele gostava mesmo era de Fórmula 1; acordava cedo ou até de madrugada para assistir as corridas.

Começou a trabalhar muito cedo para ajudar os pais, José Alberto e Josefina. Irmão de Nilza, Hélio e Carlinhos, Edson também chamado de -Jacaré- chegou a formar-se no Exército, onde permaneceu alguns anos, mas optou mesmo foi pela carreira de motorista. No período em que serviu ao Exército, morou no Rio de Janeiro, tendo sido totalmente seduzido pelos encantos da Cidade. Para ele, não havia lugar no Mundo mais bonito do que o Rio. A filha lembra que ele era um mineiro com alma carioca. "Sou carioca, não sou mineiro não", costumava dizer. O período de moradia na capital fluminense, não maior do que um ano e meio, foi o suficiente para alimentar um amor que durou a vida toda. "Ele amava passear, contudo a preferência era sempre voltar ao Rio", diz Graciele.

Depois do período no Rio, ele retornou para Belo Horizonte, terra natal, onde começou a trabalhar como motorista. Com as mãos no volante, conduziu vida afora em segurança e com muita alegria, milhares de pessoas, seja na cidade ou pelas estradas do país, a bordo de um ônibus da Empresa Cometa.

Foi como motorista e condutor de ônibus urbano que encontrou aquela que seria a "co-condutora" da vida familiar: Maria das Graças ou Gracinha, a jovem que um dia pegou o ônibus que ele dirigia para a transportar de um ponto ao outro da Capital mineira. "Ali se conheceram e em pouco tempo namoraram e se casaram", conta Graciele. "Os dois eram muito unidos, faziam tudo juntos, saíam sempre juntinhos, nem ele saía sem ela, nem ela sem ele". Assim foi por 43 anos, um casal que viveu um amor incrível.

Tiveram três filhos: Graciele, a primogênita, Bruno e Breno. Dos filhos vieram cinco netos. Guilherme, Geovanna que nasceu com deficiência e faleceu na infância, João Pedro, Bernardo e Vicente. "Ele fazia tudo pelos netos e eles adoravam o avô, passear com ele na roça", conta a filha.

Do ônibus, Edson migrou para o caminhão e depois para o empreendedorismo. Adquiriu um caminhão próprio, depois uma fazenda, em Pará de Minas. Aposentado, continuava a viajar no caminhão de entrega de óleo usado, cuidar da rocinha e criar seus animais. De segunda a quinta, em casa; de sexta a domingo, a vida era no ambiente rural. "Ele tinha muita energia, era muito amado e considerado por onde ia".

Quando ia levar o óleo queimado para as indústrias para reciclagem, era uma festa: "olha, o seu Edson chegou... o Jacaré está aí... desde o mais jovem até a pessoa mais velha, todos gostavam de conversar com ele, que sempre tinha uma palavra amiga para dar às pessoas". Essa característica de extroversão fazia com que um pequeno passeio pudesse levar um longo tempo: "sair com ele era até um custo... para ele era uma alegria, entretanto para quem o acompanhava, dava até cansaço de tanta gente que o parava pelo caminho", sorri a filha. Assim foi em família, com os amigos ou com os companheiros de trabalho.

Apreciava uma cervejinha nas horas de folga, acompanhada por um bom samba. "Meu pai nos encheu de amor, deixou um legado de alegria, solidariedade e amor ao próximo. As saudades são tão grandes quanto o amor que vivemos em família", exalta Graciele, que complementa: "Ele sempre viveu para a família; uma das maneiras de dizer eu te amo era querer sempre todos reunidos pertinho dele".

Edson nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Edson, Graciele Fernandes da Silva Rodrigues. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 28 de janeiro de 2022.