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Edson Lyrio Ruy

1934 - 2020

Para ele, a vida era melhor vivida com um belo sorriso e um bom sorvete.

Edson era um homem corajoso, de caráter forte, organizado, que gostava de fazer tudo com hora certa. Ao lado desse caráter metódico, no entanto, era um homem bem-humorado, feliz em sua essência, apaixonado pela vida e por sua linda Cleuza, que ele chamava carinhosamente de “Quezadinha”, com quem foi casado por 56 anos e com quem teve dois filhos, Alexandre e Jaqueline. Apesar da trágica e precoce morte do filho Alexandre, Edson manteve a fé em Deus e na vida, agregando, a cada dia, sua família e agradecendo a cada momento de seus dias as bênçãos de viver ao lado de suas amadas, mulher e filha.

Edson, o Edinho, como sua esposa Cleuza o chamava com doçura, trabalhou durante toda uma vida com contabilidade, embora não fosse contador de formação. Trabalhou mesmo depois de aposentado e se orgulhava muito disso. A aposentadoria não o entristeceu, ao contrário, só lhe trouxe mais tempo para viver seu hobby mais querido, que era a fabricação de miniaturas em madeira. Jaqueline contou que seu pai gostava de fabricar objetos em madeira e que fabricou um “belíssimo oratório” que fazia parte de sua rotina. A cada refeição, a cada despertar, a cada saída ou cada chegada, seu pai sempre se colocava defronte o oratório e rezava agradecendo a proteção divina. Além disso, contou a filha, seu bom humor e sua fé ultrapassavam qualquer mal-estar em torno dele.

Edson tinha um sorriso largo, daqueles que os olhos sorriem também e gostava muito de passear, nos contou Jaqueline. “Meu pai era do tipo vaidoso”, conta a filha. Gostava de ir ao shopping, “uma vez por semana eu tinha que levá-lo ao shopping, todo arrumadinho, muito bem perfumado, barba sempre muito bem feita, unhas muito curtinhas e limpas, cabelos branquinhos e bem cortados, e gostava de usar uns sapatinhos vermelhos que ele achava muito confortáveis, com seu cordão no pescoço e um anel de ouro que tinha uma pedra vermelha. Tudo isso pra passear e tomar sorvete, que ele adorava”.

Era um homem simples, nos contou Jaqueline, “pouco bastava pra que ele fosse muito feliz, e ele era! Era feliz quando íamos ao Shopping, quando molhava os seus pezinhos no mar, quando via as suas novelas ou simplesmente quando fazia palavras cruzadas”.

No último Natal, Jaqueline deu de presente ao pai um tablet, e contou que ele rapidamente aprendeu a jogar o jogo das “Diferenças”, jogo dos erros, palavras cruzadas, caça palavras e que passava o dia inteiro se divertindo com o novo brinquedo, feliz como uma criança, aos 86 anos. E amava música: se pusessem pra tocar Pavarotti ou Julio Iglesias no Youtube, ele ficava ali ouvindo o tempo inteiro. Sempre com o sorriso no rosto; sempre de bom humor.

“Mesmo na última vez que olhei no rosto do meu pai, só vi alegria, gratidão e muita fé em Deus; nunca vi meu pai mal-humorado, triste ou reclamando de alguma coisa”. Jaqueline contou que Edson não entendeu muito bem o que havia acontecido com sua amada Cleuza. “Acho que ele nem soube direito que minha mãe faleceu dois dias antes dele”, contou a filha. “Ele era muito apaixonado por ela". Estava lúcido, mas acho que não entendeu que ela foi hospitalizada”.

Os dois eram muito ligados, por isso a filha acredita que foi tudo muito confuso para o pai. Apenas dois dias depois de sua esposa Cleuza, Edson também se tornou uma vítima do coronavírus, deixando sua filha e um legado de amor e encorajamento pela vida.

Jaqueline concluiu assim nossa conversa: “Pai, eu te amarei pra sempre... está muito difícil continuar sem você...Descanse em paz”.

Edson foi vítima da Covid-19 dois dias depois que Cleuza se foi. A história dela também está neste Memorial, para conhecer procure por Cleuza Singue Ruy.

Edson nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado Filha de Edson, Jaqueline Singue Ruy. Este tributo foi apurado por Sandra Maia, editado por Sandra Maia, revisado por Juliana Holzhausen e moderado por Rayane Urani em 29 de outubro de 2020.