Sobre o Inumeráveis

Edson Remolli Padilha Filho

1986 - 2021

Desde pequeno foi apaixonado por constelações. O cosmos e seus mistérios sempre o encantaram.

Com seu jeito doce e cativante, não havia quem não gostasse dele. Exercia um magnetismo que o fazia reunir pessoas à sua volta e conquistar amigos pelo mundo. Poucos são aqueles que possuem o dom de se tornar unanimidade em qualquer lugar por onde passam. Certamente Edes, ou Edinho, como a família carinhosamente chamava Edson, era uma dessas pessoas.

Segundo filho do casal Márcia e Edson, dedicou aos pais durante, toda a vida, muito amor e cuidado. Para ele, a família era um dos bens mais preciosos. Sonhava em viajar com a mãe para a praia ou um lugar mais distante, mesmo sabendo que ela só saía de casa para trabalhar.

Com seus três irmãos, Natalia, Victor e Augusto, possuía uma união de encher os olhos: o verdadeiro significado da palavra irmandade. O amor que os quatro nutriam um pelo outro era tão genuíno que volta e meia recebiam elogios de terceiros, admirados pela relação fraterna. "Desde criança, sempre cuidei muito dos meus irmãos. O Edinho era a minha metade aqui na Terra. Crescemos juntos, brincamos juntos e até fazíamos inglês na mesma turma; só nos separamos quando tivemos que nos mudar de cidade. Brigávamos algumas vezes, mas rapidamente fazíamos as pazes. Tínhamos inclusive os mesmos medos e angústias. Enquanto eu sempre fui muito medrosa, ele encarava tudo com atitude", declara a irmã Natalia.

Em Curitiba conheceu Denise, o amor da sua vida. Os dois tiveram uma relação repleta de carinho e respeito por oito anos, até a partida dele. Inseparáveis, amavam se aventurar juntos, partilhando o apreço pelo acampamento e montanhismo. Desse intenso amor veio Laura, em uma gravidez muito esperada por todos. Pai muito presente, Edinho acompanhou cada momento e gostava de participar de tudo: trocava fraldas, prepara as refeições da pequena, tocava violão e cantava para ela. Laura então lhe retribuía com os olhos radiantes o sorriso mais lindo desse mundo.

Junto com a esposa, aguardava ansiosamente a chegada do segundo filho, Davi. O casal, cheio de planos, transbordava felicidade. Para Edes, era muito importante que Laura tivesse um irmão, principalmente pela relação de amor e reciprocidade que mantinha com os seus. Esse desejo foi realizado, embora Edes não tenha podido conhecer o caçula.

Edson também era uma referência para seu sobrinho Carlos, filho de Natalia. Os dois tinham uma afinidade impressionante. Dividiam o gosto musical e se falavam quase diariamente. Carlos desenhava e o tio não só gostava muito de ver seus desenhos, como era um de seus maiores incentivadores.

Edinho costumava vestir camisa social e bermuda, e sua marca registrada era a boina, que não tirava da cabeça, além das inúmeras tatuagens que lhe cobriam o corpo.

Formou-se em Contabilidade e trabalhava em uma multinacional. Gostava realmente do seu ofício e era extremamente bem-sucedido, pois tudo que fazia precisava ser bem feito.

Inteligente, dedicava horas do seu tempo livre aos estudos. Falava inglês fluentemente e fazia aulas de alemão. Impossível vê-lo sem um livro nas mãos. Interessava-se por muitos assuntos e boas conversas. Era fascinado pelo cosmos e tudo que se relacionava ao universo. Nas horas vagas, também gostava de jogar videogame, assistir a filmes e séries, além de se reunir constantemente com um grupo de amigos para jogar RPG. Ávido por aventuras, amava realizar viagens pelo mundo.

Edes possuía uma relação especial com a música. Autodidata, aprendeu ainda na infância a tocar guitarra. Desde punk até blues, teve várias bandas. Com sua voz linda e seus bons acordes, tanto na guitarra quanto no violão, estava sempre tocando e cantando, o que transmitia paz e alegria aos dias de quem estava ao seu redor. "A música sempre esteve presente em nossas vidas. Gostávamos inclusive de reunir todos os irmãos em shows. Eu me lembro dele em quase todas as canções, mas era só escutarmos Queen que automaticamente lembrávamos um do outro", recorda Natalia.

Um dos seus primeiros e grandes amores foi o Palmeiras. Completamente apaixonado pelo alviverde paulista desde pequeno, estava sempre uniformizado com a camisa do time, tornou-se sócio torcedor e fazia questão de ir aos estádios assistir aos jogos de seu time. Nesses dias, o grupo com os irmãos no aplicativo de mensagens parecia uma cobertura esportiva. No final, Edinho enviava áudios já rouco de tanto comemorar. A irmã conta: "Foi ele quem me deu a minha camisa do Palmeiras. Em nossa despedida final, quando foi cremado, deixei-a com ele. Ele não podia partir sem ela".

De natureza altruísta, não deixava ninguém na mão e sempre fazia tudo que estava ao seu alcance para ajudar. Preocupava-se constantemente com o bem-estar dos familiares e colegas de trabalho, além de promover arrecadações de brinquedos e materiais escolares paras crianças carentes. Na doçura de seus gestos, se mostrava disposto a prover qualquer tipo de ajuda. Dava conselhos, fazia elogios, enfatizava o melhor de cada pessoa. Era capaz, às vezes, até de dar umas broncas, mas sempre com amor. Natalia descreve o carinho do irmão: "Mesmo morando em Curitiba, sempre me ajudou em tudo que foi possível".

Edinho tinha o prazer de reunir familiares e amigos, tanto que reformou a varanda de sua casa para receber as pessoas. Era bom de garfo. Gostava de pão com carne moída e lanches com maionese caseira. Toda vez que se encontrava com a irmã logo imaginava uma lanchonete para levá-la. Também era apreciador de churrasco e de uma boa cachaça, sabendo fazer algumas variedades dessa bebida. Tinha o hábito de comer todas as sobremesas juntas e de misturar refrigerante com alguma bebida alcoólica nos churrascos em família.

Após o seu falecimento, Edson recebeu inúmeras homenagens ao redor do mundo. Bastavam alguns minutos ao lado dele para um conexão imediata. Deixou um legado de muito amor e ensinamentos. Um deles é que não existe o depois. Em sua intensidade e ânsia de viver, não deixava nada para amanhã. Seus desejos eram estar sempre com as pessoas que amava, aproveitar cada segundo para aprender e ajudar no que fosse possível. O fascínio pelo cosmos agora faz mais sentido que nunca para quem o conheceu: Edes era feito o Universo - brilhante, surpreendente e imensurável.

Edson nasceu em São Carlos (SP) e faleceu em Curitiba (PR), aos 35 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Edson, Natalia P. Padilha. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Denise Pereira e Andressa Vieira, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 18 de janeiro de 2022.