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Eduardo Orlando das Neves

1947 - 2020

Dono do bigode que mudava de cor quando tomava açaí.

Eduardo veio de uma família muito humilde, seu pai faleceu quando ele tinha apenas oito meses, cresceu vendo a mãe e os irmãos trabalhando.

Por volta dos 13 anos, mudou-se para Santarém, em busca de melhores condições de vida, em uma cidade mais desenvolvida. Lá, aprendeu o ofício de carpinteiro, onde começou fazendo móveis e em seguida aprendeu a fazer casas. Toda sua renda era para se manter e ajudar a família, passou por inúmeros desafios, mas conseguiu se estabelecer e construir uma família com muito afeto. Nessa cidade, encontrou o amor da sua vida, com quem dividiu mais de 50 anos juntos.

Ensinou os filhos, por meio do convívio, o respeito ao próximo e a amar Jesus. Rancor e ingratidão não eram descrições para ele. A família era o que mais importava. Para ele, tinha hora para tudo, para disciplinar com integridade e também para distribuir afeto.

Tinha um cuidado imenso por suas galinhas e patos no quintal, estava sempre na internet, procurando técnicas para que tivessem melhor qualidade de vida. Seu coqueiro e açaizeiro eram seus xodós, cuidado era a palavra que definia Dudu.

Em seu caderninho, anotava a quantidade de ovos das galinhas, as datas de plantio das mudas, de forma que tudo pudesse estar organizado. Adorava aprender.

Eduardo era o auxílio de toda a família. Consertava, trocava lâmpadas e estava sempre disposto a alegrar o dia de todos ao seu redor. Pino, seu cachorrinho e fiel companheiro, andava com ele para todo lado. Sempre dizia para todos: “Quando eu morrer, quero que o Pino vá comigo, no meu caixão”. Infelizmente não foi possível. A doçura e o abraço carinhoso de seu Dudu deixam saudades.

Adorava as comemorações de família, Dia das Mães e outras festividades. Nunca se sentava na mesa junto a todos, pois segundo ele, “caboclo velho come à parte”. Jamais dispensava um bom pedaço de pudim.

A maior herança que Eduardo deixou, foi o exemplo de cristão que foi. Na sua casa, o amor e a gratidão a Deus eram determinantes para que princípios fossem repassados: dignidade, honestidade e humildade.

Em suas últimas palavras, disse à filha que aceitava Jesus como seu único salvador. Não havia melhores palavras que descreveriam Eduardo. Parte, sabendo que jamais será um número, e que distribuiu muito amor ao longo da vida.

Eduardo nasceu em Alenquer (PA) e faleceu em Santarém (PA), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Eduardo, Maria Edilene Silva das Neves Lamego. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ygor Expedito Gonçalves, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 30 de julho de 2020.