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Edvanilton Ramos de Oliveira

1978 - 2021

O melhor feirante, o filho que nunca deixou faltar pão de queijo a sua mãe, espalhava alegria em alto e bom som.

"Oliveira fruuutas e verduuuras", não tinha quem não passasse pela feirinha e não o ouvisse sempre em alto e bom som. Essa era uma das formas que Edvanilton, mais conhecido como Oliveira, encontrou de trazer toda sua alegria à vida e ao local de trabalho. Era com um sorriso no rosto gritando o nome da sua banquinha que chamava a atenção de todos na feira, chegava a ser tão contagiante que “muitos passavam por ele e também gritavam "Oliveeira frutas e verduuuras”, conta a filha Camila sorrindo ao lembrar do pai.

“Ele chamava um amigo que tocava teclado pra ir lá pra feirinha, meu pai amava cantar, e cantava vários hinos da harpa. Entre uma música e outra ele falava ‘ei dona maria, olha aqui a promoção’, ‘ôh seu José vem aqui no Oliveira frutas e verduras, é tudo barato’, e ele nem sabia o nome da pessoa, era só pra chamar a atenção mesmo”, declara a filha rindo das artimanhas do pai para conquistar o freguês. “Ele era muito divertido”, completa ela.

"Esse meu filho é o outro lado do meu coração", assim dizia a mãe Jaci. Oliveira era extremamente apaixonado por ela, fazia de tudo para ser um filho presente. As coisas certas que não podiam faltar no seu dia-a-dia, era comprar pela manhã o pão de queijo da mãe, e a noite fazer uma refeição junto a ela, mesmo que isso significasse jantar duas vezes. “Ele ia até a casa da minha avó para comer a comida dela e ela não ficar sentida”, conta a filha Camila, e relembra que não tinha uma ligação feita pelo pai em que a avó também não aparecesse, “ele ligava pra mim por vídeo e colocava ela pra falar comigo toda vez, ele nunca esquecia”.

Além de ótimo filho, Oliveira também foi um pai presente, estabeleceu uma linda conexão com os filhos Camila e Herisson. “Ele falava que a filha dele ia ser uma enfermeira e o outro filho um médico”, sonhava o pai com o futuro dos filhos de 18 e 16 anos.

“Nós não convivíamos, mas éramos muito ligados”, relata a filha sorrindo ao lembrar da música que o pai pedia pra ela cantar ao telefone quando era criança, “sou uma florzinha de jesus, sou uma florzinha de jesus... essa música é impregnada na minha cabeça, toda vez que ele ligava quando eu era bem pequenininha, ele falava ‘minha filha canta essa música pro papai’, e eu cantava”, diz Camila.

Oliveira continuará ecoando sua voz e alegria na feira, os hinos cantados por ele nunca se apagarão da mente dos Josés e Marias. Em meio ao silêncio que ficou, sempre viverá o brincalhão amado por todos, e a lembrança de um homem que emanava força e gratidão. Ao fundo podemos ouvir uma voz cantando: “como é grande o meu amor por você”.

Edvanilton nasceu em Itamaraju (BA) e faleceu em Porto Velho (RO), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Edvanilton, Camila Fontenele Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por Criles Monteiro, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 5 de maio de 2021.