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Efraim Ferreira da Silva

1938 - 2020

Paciente e otimista, queria viver até os 105 anos.

Efraim era querido por todos. Ele adorava seu nome, mas os filhos e netos o chamavam, carinhosamente, de "pai" ou "meu véio". A neta Michele conta que a família era tudo para ele: “Metade da família mora na Bahia e ele tinha ainda esperança de um dia rever todos por lá.”

Michele diz que a união de Efraim e Maria Cleide, com quem esteve casado por cinquenta e quatro anos, foi marcada pelo companheirismo “Se amaram de verdade, até que a morte os separou. Tiveram cinco filhos: Claudia, Eliete, Ieda, José Paulo e Iedo. Depois, vieram os netos: Michele, Gleice, Jhones, Efraim (em homenagem ao avô), Isabela, Gabriela e Kauê. E, mais tarde, os bisnetos: Geovana e Gustavo. “Ele pôde conhecê-los. Alcançou ver a bisneta com 16 anos! Isso é uma dádiva”, afirma Michele.

Ela diz que Efraim acreditava muito em Deus e tinha fé na vida: “Há muitos anos, lidava com a deficiência visual em um dos olhos e vinha perdendo a visão do outro, por conta da diabetes. Já estava com dificuldade de locomoção por conta de problemas nos joelhos, mas, mesmo assim, era forte e tinha a certeza de que, mesmo com toda sua idade, iria ficar recuperado para voltar a ter sua vida ativa de antes.”

Efraim trabalhou na roça durante a infância e adolescência, na sua amada terra natal. Em São Paulo, onde viveu por mais de sessenta anos, trabalhou como mestre de obras. “Desde que ficou impossibilitado de trabalhar, passava bastante tempo na laje, tomando sol. Também gostava de assistir aos programas de TV e de escutar músicas sertanejas antigas”, diz a neta.

“Vivemos muitos momentos juntos. Eu acompanhava meu avô em consultas e cirurgias. Era engraçado, pois ele obedecia somente a mim. Na hora de andar de braços dados ou na cadeira de rodas, ele não reclamava. Sabia que o amava e cuidava dele com toda dedicação”, lembra Michele, descrevendo alguns dos outros tantos cuidados que os familiares dedicavam a Efraim, uma forma de devolver o amor incondicional que sempre receberam de um ser de luz, muito especial em suas vidas: “Em seus últimos anos, foi muito mimado pela Ieda, que fazia vitaminas, cortava suas unhas, dava comida na boquinha... Quando os papéis se inverteram e ele voltou a ser criança, o Iedo dava banho nele.”

Michele afirma que Efraim gostaria de ser lembrado pela sua simplicidade e que o avô "foi um homem íntegro, honesto, otimista, paciente e calmo (ele sempre dizia: ‘Para que brigar?’), o que fez com que se desse bem com todos, sendo querido pelos amigos e vizinhos."

“Suas últimas palavras, já internado, foram através de uma chamada de vídeo, para a esposa, filhos e netos. Quando a esposa disse que Deus estava com ele e perguntou se estava tudo bem, ele respondeu: ‘Como posso estar bem, se você não está aqui comigo?’ Aí, tivemos a certeza de que o amor verdadeiro venceu! Esse é o legado que fica para nós”, relata Michele. E conclui: “O homem que amou muito sua esposa, filhos, netos e bisnetos, que lutou bravamente pela vida e foi um guerreiro, descansou. Hoje vive na glória de Deus, cuidando de nós.”

Efraim nasceu em Barreiras (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Efraim, Michele da Silva Bispo. Este tributo foi apurado por Irion Martins, editado por Renata Meffe, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2020.