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Efraim José Sant’Anna

1954 - 2020

Adorava sentar-se na sua cadeira para tomar um solzinho de manhã ou reparar nas "modas".

Efraim, ou Frainzeca (para os sobrinhos), foi uma pessoa humilde e de coração enorme. Um brincalhão que falava gritando, o que inicialmente podia gerar estranhamento em quem não o conhecia, mas bastavam cinco minutos de conversa para sentir sua simplicidade e humanidade.

Essa sua capacidade de se comunicar encantava as pessoas, especialmente as crianças, que sempre o rodeavam, testando sua inesgotável paciência e eterna disposição para brincar com os pequenos.

Quando jovem, adorava soltar pipa. Essa paixão rendeu algumas boas e inusitadas situações, que ele adorava contar aos filhos e netos.

“Uma vez, quando tinha 10 anos de idade, estava tomando banho no tanque do quintal quando viu uma pipa avoada. Não pensou duas vezes: pulou do tanque e, do jeito que estava, saiu correndo pela rua atrás da pipa. Sua mãe gritava para que ele voltasse e colocasse uma roupa”, diverte-se Fernanda, relembrando uma das muitas peripécias do pai.

Homem inteligente, sempre se destacou nos estudos. Foi aprovado no vestibular para Engenharia Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas não concluiu o curso, pois a noiva, Marta, engravidou e Efraim teve que abandonar a faculdade para trabalhar no negócio do pai e assumir as novas responsabilidades. Casou-se e, assim, construiu uma família.

Ao lado de Marta, com quem dividiu a vida por 39 anos, passou por momentos de alegria, de tristeza e de aventura. Pai de três filhos: Fernanda, Fernando e Flávia, e avô de três netos: Krisla, Noam e da caçulinha Arya, que pouco pôde curtir.

Efraim foi um pai à frente de seu tempo, dando liberdade aos filhos para fazerem as próprias escolhas. Sabia ser exigente, cobrando que todos estudassem e se formassem, mas sempre de forma muita justa, tendo a honestidade como principal alicerce.

Adorava sentar-se na sua cadeira no quintal para tomar um solzinho de manhã ou colocá-la no portão de casa só para reparar nas "modas". Essa mesma cadeira, hoje vazia, enche d’água os olhos de Fernanda, pois toda vez que olha para ela se lembra de que era ali o cantinho preferido de Efraim.

Apesar de caseiro, amava uma festa, principalmente aquelas que reuniam a família toda. Também gostava de mostrar, sempre com muito orgulho, as taças conquistadas como goleiro do time do bairro nos campeonatos que disputou.

Embora pareça estranho, tinha a mania de todos os dias ligar para a casa dos netos. Para Noam, ligava só para dizer um desaforo e ouvir a gargalhada dele no final!

Tinha muitos planos e sonhos, interrompidos repentinamente, mas sua alma, tão iluminada e perseverante, move a vida de Fernanda e de todos da família para que continuem acreditando no sonho de um mundo melhor e uma vida mais leve.

Voa, Frainzeca. Voa alto como as suas pipas na imensidão do céu!

Efraim nasceu em São João de Meriti (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Efraim, Fernanda Barreto Sant Anna. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 1 de dezembro de 2020.