1986 - 2020
Bastou uma promessa do amor adolescente para selar a mudança de estado e a união de duas famílias.
Eliana teve uma infância típica de crianças de roça, no interior de Minas. Nascida e criada em Andrelândia, frequentou a escola até o final do Ensino Fundamental. Na família, foi braço direito da mãe, Maria da Conceição, e do pai, José Francisco, aos quais auxiliou na criação dos irmãos.
A mãe, Dona Conceição, depois de viúva teve outro relacionamento, com o Seu Dito, padrasto de Eliana e dos seus irmãos.
Na adolescência, Eliana conheceu o amor de sua vida, Júlio. Estava com 17 anos quando o namoro começou - ela em Minas Gerais, ele em São José dos Campos. A cada visita à cidade mineira, Júlio prometia casamento e uma vida em terras paulistas. “A promessa bastou para ela, que deixou a casa do vô e da vó em busca do amor e da nova família”, conta Alan, filho único de Eliana e Júlio, nascido quando Eliana ainda tinha 18 anos.
“Casaram e, com o passar dos anos, compraram o primeiro carro, um terreno, e construíram a casa na qual moro até hoje”, conta o filho orgulhoso e saudoso dos pais.
Quando Alan era adolescente, Eliana decidiu trabalhar fora. “Ela sempre se dedicou a mim e ao pai; então resolveu trilhar um novo caminho”, diz Alan. A primeira experiência foi como auxiliar de cozinha. “Logo virou chef”, destaca o filho. Considerando o serviço na cozinha cansativo, porém, Eliana deu uma guinada, passando a dedicar-se ao cuidado de idosos, atividade que levou adiante por anos.
“Chegou a fazer uma pausa de uns dois anos, quando foi trabalhar com o pai, no prédio onde ele era zelador. Ficavam o dia todo juntos. Mas depois voltou a ser cuidadora, fez cursos, e tinha muitos sonhos”, lembra Alan.
A vida em família é a lembrança mais feliz do filho único de Eliana e Júlio. “Eles sempre viveram muito bem, nunca os vi brigando. Foram vinte e cinco anos de amor e companheirismo.” E não só. O casal virou esteio familiar. “Como eram os mais velhos, quase todos os parentes nossos que vinham de Minas Gerais iam morar conosco, muitos irmãos do meu pai e da minha mãe dividiram nossa casa.”
E a família se uniu ainda mais por causa dessas acolhidas na residência de São José dos Campos. “Geraldo, irmão do meu pai, e Edineia, irmã da mãe, se casaram depois de morarem com nossa família”, diz Alan.
Os tios acolhidos são tratados por Alan como “irmãos de consideração” - Edinei, Edinaldo, Edinilson, Eliziane, Edineia, Laís, Camila. “Todos muito unidos, e ela era a grande conselheira”. Eliana pôde aproveitar o amor de vó, embora não oficial, com as pequenas Cecília e Lívia, filhas de Geraldo e Edineia, duplamente sobrinhas. “Eram um grude, minha mãe e as meninas”, conta Alan.
“Embora palavras não expressem o que ela foi, sinto que minha mãe precisa ser lembrada como a melhor pessoa do mundo, a melhor esposa, a melhor amiga, a melhor mãe, melhor sogra, melhor filha, melhor irmã. Era impossível alguém brigar com ela. Era serena, um anjo na terra. Cumpriu sua missão com muito êxito. Nada cobrirá o vazio que irá deixar no coração de todos”, diz Alan.
Para o filho, que nunca havia ficado longe da mãe por mais de trinta dias, a partida de Eliana não significa o fim. “Eu e Jaqueline, minha esposa, que a mãe adotou como filha e amiga, sentimos muito a sua falta, e não somente nós. O marido, a mãe, o padrasto, os sete irmãos que a amaram com toda intensidade, para todos ela foi um exemplo que será seguido vida afora”, resume o filho.
Eliana nasceu em Andrelândia (MG) e faleceu em São José dos Campos (SP), aos 44 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Eliana, Alan Junio Souza. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 1 de agosto de 2021.