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Eliandro dos Santos

1980 - 2021

Tinha todos os tipos de ferramenta em casa, chegava do trabalho e já ia para suas obras, invenções e arrumações.

Nascido e criado no interior catarinense, Eliandro experimentou uma infância simples e feliz. Das doces lembranças da época de menino, contava das brincadeiras com seus primos nos finais de semana. Na adolescência trabalhou no bar do “Belinha”, no Centro. Ao mesmo tempo em que descobriu o gosto pelo trabalho, foi também ali que conheceu muita gente e fez várias amizades. Era conhecido por Tuxe, e a família carinhosamente o chamava de Nando.

Em 1999, quando cursava o ensino médio, Nando conheceu Raquel, com quem a partir daí começou a escrever uma encantadora história de amor. Desde que se conheceram demorou três anos para que começassem a namorar. "Eu achava engraçado que quase todos os dias minha filha mais velha ia com uma moedinha de 50 centavos em sua bicicletinha roxa com rodas amarelas no bar, comprar sorvete, e ele sempre ofertava um pouco mais do que aquele valor. Dizíamos que ele queria conquistar a filha para então conquistar a mãe — e deu certo", relembra Raquel. Em 2006 uniram-se de vez, construíram sua casa, ele assumiu-se como pai de Érica e, em 2015, nasceu a Elisa. Amava profundamente as filhas. Levava ou buscava a mais velha nos bailes e, para a mais nova, sempre trazia alguma guloseima depois do trabalho. Extremamente carinhoso e paciente, mimou o quanto pode as mulheres de sua vida.

Sempre muito responsável, era dedicado em tudo o que fazia. Conhecido por sua lealdade, também na empresa, atuou como Projetista Copista na América Vidros. Não tinha preguiça para nada, se precisasse sair de seu setor para ajudar na Produção, trocava o uniforme e ia, com muita alegria por poder servir à firma.

Não tinha intriga com ninguém. No tempo livre, gostava de estar com a família e com os muitos amigos. Ligava o som do carro com suas músicas caipiras ou ritmos "dance", dos anos 1980 ou 90, e acendia o fogão à lenha para cozinhar. Gremista, como o pai, colecionava itens do time, mas preferia assistir a filmes em vez de ver os jogos. Por sinal, amava filmes; assistia várias vezes o mesmo e até decorava as falas. Sempre usava boné. Outra paixão era a pescaria e tinha como parceiras sua mãe, sua sogra e a filha Elisa.

Era carinhoso, gentil e generoso. Estava sempre observando o que os vizinhos precisavam para auxiliá-los. Tinha todos os tipos de ferramenta em casa. Cuidava do sítio do cunhado, juntamente com sua sogra, com muita dedicação. Quando chegava em casa do trabalho ia logo para as suas obras, invenções e arrumações. A vizinhança já estava acostumada com o barulho da serra mármore. Quando ele foi internado, todos comentaram que a rua não era mais a mesma: a luz da garagem não acendia mais...

Raquel relembra que o primeiro carro deles foi um Fusca que foi trazido de outro município, "guinchado" por uma corda presa a outro carro. Como era muito cuidadoso, Eliandro sempre estava “arretando” o carro, para deixá-lo funcionando bem, e ainda instalou uma caixa de som com luzes de LED, que acendiam conforme o ritmo das músicas. No fusquinha, muitas vezes levou a sogra ao sítio com os batuques das músicas, bem como a Érica e suas amigas para passear à noite, exibindo o que parecia ser “uma árvore de Natal ambulante”.

Tinha o costume de soltar um “Nem te apresenta” quando alguém falava ou fazia alguma besteira. E outro hábito conhecido seu era substituir o "tchau" por um "até logo", justificando que, para ele, tchau era para sempre.

Eliandro nasceu em Timbé do Sul (SC) e faleceu em Criciúma (SC), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Eliandro, Raquel Dal Pont. Este texto foi apurado e escrito por Ana Helena Alves Franco, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 3 de abril de 2022.