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Eliete Terezinha Silva

1958 - 2020

Não podia ver a geladeira ou um armário meio vazio que logo ia ao supermercado. Gosta de fartura.

Dona Zinha amava dançar, comer e ver a família toda saboreando suas sobremesas após se deliciarem com a feijoada preparada por seu amado esposo, Ademir. Além de cozinhar para eles, Eliete e o marido tinham o hábito semanal de passar pela feira logo cedo. A filha Dayana revela que esse era o programa favorito do casal.

A alegria de Eliete vinha da simplicidade como levava a vida, aproveitando intensamente cada momento, sem dar espaço para as tristezas do cotidiano. Não se deixava abalar com nada e tirava de letra os problemas. Quando se deparava com a tristeza dos outros, “ela logo tentava e conseguia transformar aquilo em um sorriso”, conta Dayana. Não havia tempo ruim para Dona Zinha.

Ela aprendeu a ser assim com as dificuldades que enfrentou. Começou a trabalhar ainda na infância, atuando em uma casa de família quando tinha somente 12 anos. Só ia ao encontro dos pais nos finais de semana quando conseguia tirar suas folgas. Isso porque aprendera com a própria mãe que tinha que dar o melhor em tudo que fazia e, por vezes, o tempo livre lhe faltava. Por isso, mal soube o que era brincar e estudar.

Já na juventude, Eliete trilhou outro caminho após conhecer Ademir. Certa vez, o rapaz foi convidado por sua irmã para ir a casa de seu namorado que, coincidentemente, era próxima de onde Eliete trabalhava. Naquele dia, seus olhares se cruzaram e eles se gostaram à primeira vista. Dali em diante, Ademir passou a frequentar mais a região e, após alguns encontros, eles decidiram ficar juntos. Pouco tempo depois, ela engravidou e os dois se casaram.

Eliete passou a ter um parceiro na vida. O início da relação não foi fácil, mas eles contaram com apoio para construir sua família e tudo melhorou quando a mãe de Ademir decidiu presentear com um pedaço de terreno, onde eles finalmente puderam iniciar a vida.

Com isso, a relação dos dois se fortaleceu ainda mais. Era possível perceber a união e cumplicidade nos pequenos detalhes, como quando Eliete chamava carinhosamente o marido de "pai" e de "amor" ou mesmo fazia suas brincadeiras que, embora deixassem Ademir um pouco envergonhado, despertavam seu amor pelo jeito espontâneo e divertido da esposa.

Como mãe, Eliete sempre se fez presente na vida dos filhos. Fazia questão de levá-los na escola, vivia inventando receitas novas, especialmente de doces, para servir a família quando todos se reuniam. Eram lei as idas ao supermercado todos os sábados porque não podia sentir falta de algo na geladeira ou no armário. Para ela, todos deveriam comer o que tinham vontade. Dona Zinha demonstrava seu amor pela proximidade e pelo cuidado. Sua felicidade era ver todos bem e saboreando os doces que ela fazia.

Orgulhava-se de todas as suas conquistas ao superar as dificuldades da vida, sem perder o sorriso no rosto.
Ensinou a filha a viver intensamente cada momento bom. Das várias lembranças, Dayana guarda com carinho a do primeiro Réveillon que passou com os pais. “Estávamos eu, ela, meu pai e meus filhos assistindo aos fogos, como se nada mais importasse ali, apenas nós. Às vezes, parece que ainda sou capaz de ouvir o som da sua gargalhada”, conta.

É assim que Eliete ainda se faz presente mesmo após sua partida.

O esposo de Dona Zinha também foi vítima da Covid-19. Para conhecer sua história, procure por Ademir da Silva em nosso site.

Eliete nasceu em Tijucas (SC) e faleceu em Florianópolis (SC), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Eliete, Dayana Gabriela Silva. Este tributo foi apurado por Giovana da Silva Menas Muhl, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 22 de abril de 2022.