1969 - 2020
As orquídeas enfeitavam sua casa e, junto à família, davam o colorido que alegrava sua vida.
A dona Eliete era a típica mãe amorosa, orgulhosa e coruja, dessas que são apaixonadas por seus filhos e pela família que construiu. Estava sempre mimando seus pequenos, no melhor dos sentidos (até quando já não eram mais tão pequenos) e distribuía seu cuidado de mãe a quem estivesse com o coração aberto para receber. Foi mãe de dois filhos que viveram com ela até mais velhos, juntamente à sua sobrinha.
Cresceu e viveu no vilarejo de Boa Esperança, bem pertinho de Frutal, onde estava sua família. Desde sempre foi uma mulher muito humilde. “Era daquelas mulheres fortes, que aprendeu desde cedo a dar valor nas simples coisas da vida”, nas palavras de Rafaela, sua nora, e se algo não saia como planejado, ela confortava qualquer frustração dizendo que "tudo bem, a gente aproveita de outro jeito".
Os momentos com a família eram quando Eliete se soltava e aproveitava a vida com toda a delicadeza e alegria que ela entregava. Adorava rir com as palhaçadas do pessoal e ficava até de madrugada conversando e rindo na casa de sua irmã, mas sempre falava "não, vou ficar só mais um pouco e vou embora pra dormir na minha casa". Era seu jeitinho de ser.
E sua casinha, como ela amava esse cantinho! Todo enfeitado com as orquídeas que eram seus xodós. Passava horas e horas cuidando das flores e fazia questão de mostrá-las a todas suas amigas. Em qualquer data comemorativa, escolher o presente para ela era fácil: se desse uma orquídea não tinha erro. Mas bem que a tarefa não era tão simples assim, porque claro, tinha que ser de uma cor diferente.
Eliete era um tanto sistemática, mas seu lado brincalhona sempre aparecia também. Costumava brincar que gostava mais das orquídeas que de seu esposo. Mas não há dúvida nenhuma de que tinham um carinho muito especial um pelo outro. Se deixavam escapar um beijinho na frente da família, ah… era uma festa, motivo de alegria.
Eliete foi merendeira numa escola municipal e ali colocava em prática uns dos seus talentos: fazia as melhores merendas e alegrava a convivência com as crianças e os colegas de trabalho. Se via um aluno mais quietinho, fechado em um canto, não pensava duas vezes pra ir dar aquele colo de que precisava. Era seu coração de mãe falando alto.
Em casa, os sabores dos almoços de domingo eram marcados por "aquele tempero delicioso que só ela sabia fazer", lembra Rafaela, sua nora. Não tinha jeito: junto à família era onde Eliete mostrava o melhor de si.
O carinho por sua família era tamanho que Eliete se revelou um exemplo de amor, desse que acolhe e respeita. O orgulho que tinha de seus filhos era tanto, que preferiu, da maneira mais natural e linda, cuidar e dar amor à sua filha do que repreendê-la pelo seu jeito de ser e de amar, quando assumiu seu relacionamento com outra mulher. Não interessava mais nada se os filhos estivessem bem e felizes, sendo amados e cuidados.
Eliete sonhava em ter seus netinhos. Seria a forma de colocar esse afeto todo em outros pedacinhos fora de seu corpo. Dizia que ia conseguir um terreno do lado das casas dos filhos, para estar sempre por perto. Mas como dizem, vó é mãe duas vezes. E se ela mimou seus filhos, seria daquelas vovós que não nega nada pros netos. Quando os pequenos chegarem ao mundo, vão ter a honra de ouvir as histórias tão carinhosas da vó Eliete.
A maior de suas marcas, que deixou no coração de quem teve a felicidade de conviver ao seu lado, foi o seu caráter de mãe protetora, que ama e acolhe.
Eliete nasceu no Povoado de Boa Esperança (MG) e faleceu no Povoado de Boa Esperança (MG), aos 50 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora e pela sobrinha de Eliete, Rafaela Rosene da Silva Barros e Lorena Oliveira Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriela Pacheco Lemos dos Santos, revisado por Emerson Luiz Xavier e moderado por Rayane Urani em 3 de junho de 2021.