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Elisabete Marques Sanches

1951 - 2020

Coração imenso de mãe, alma inquieta que amou todas as artes. Anjo que, em vez de asas, tinha pés dançarinos.

Homenagem enviada pela nora Tatiana à sua amada sogra:

Bete era uma mulher incrível e de bom coração. Graças à sua generosidade, garra e alegria, em 2019 foi homenageada em vida pelos seus 30 anos de Festidança - Festival de Dança organizado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, na cidade de São José dos Campos. Sempre amou todo tipo de arte.

Na quarentena eu fiquei com meu contrato suspenso e meu marido, que é músico, também teve de interromper sua atuação profissional. Então, durante todo esse período de isolamento social ficamos em casa. Por um lado foi muito bom, porque pudemos estar perto dela; minha sogra me ensinou até a fazer crochê.

Não sei como ela conseguia fazer tantas coisas; estava sempre disposta e resolvia tudo, era o verdadeiro alicerce da família. Quantas vezes me ajudou com compras de mercado... não só a mim, mas a várias pessoas. Ela era assim, tinha um coração gigante e acabava sendo uma verdadeira mãe para todo mundo.

Assim que retornamos ao trabalho, em dezembro, pegamos a covid-19. Eu tive sintomas leves, meu marido ficou muito ruim. Como todos ainda estavam em isolamento, ela sempre me mandava mensagem pra saber como estávamos. Preocupada com o filho, perguntava se a gente estava se alimentando direito. Ela mal teve sintomas, mas sentiu falta de ar, precisou de internação, foi para a UTI e aconteceu tudo muito rápido.

Mariana, sua neta, escreveu uma carta para ela com o objetivo de a tranquilizar; contou que estávamos bem. Teve uma enfermeira que foi um anjo, mandou o áudio dela através do seu próprio celular, Bete disse que havia lido a cartinha amorosa da neta.

Ela faz falta muita falta. Sentimos muita saudade dela no Natal; sentimos saudades todos os dias.

Bete era uma mulher muito espiritualizada e eu sei que o céu está em festa porque ela sabia fazer uma festa como ninguém. Aliás, para ser mais precisa, o céu certamente está em dança.

Os dançarinos e demais membros da Fundação fizeram um lindo vídeo para homenageá-la. O vídeo pode ser visto no YouTube, com o título "Homenagem a Bete Sanches". É uma verdadeira declaração de amor e gratidão.

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A neta, Mariana, escreveu essa linda homenagem em memória de sua querida avó:

Elisabete, ou Bete Sanches como era conhecida, foi mais do que só uma servidora pública durante seus 40 anos dedicados à São José dos Campos - SP. Bete Sanches evoluiu a dança e fez seu marco e sua história.

Foi homenageada diversas vezes por seus feitos e isso não parou nem após seu falecimento: o reconhecimento foi tanto que foi citada na Câmara de Vereadores de São José dos Campos e na Câmara de Deputados de São Paulo.

Apesar de ter nascido em São Caetano do Sul, Bete Sanches viu São José crescer quando se mudou para lá em 1980; e, junto com a cidade, ela foi expandindo seus horizontes.

Foi a benfeitora de um dos maiores festivais de dança do Brasil durante trinta anos. Ela respirava dança e mesmo que não tenha traçado sua trajetória dançando, ela marcou e inspirou incontáveis dançarinos.

Viu crianças entrando na dança e se tornando grandes vencedores de prêmios, viu as melhores academias de dança de São José nascendo, crescendo e se estabelecendo.

Além de suas grandes vitórias profissionais, Bete Sanches era uma grande mãe para todos; acolhia e tomava as dores de todos que podia, qualidade que podemos atribuir como responsável por seu grande sucesso.

Dona Bete estava em casa indignada e pensando como seriam os próximos Festidança por conta da pandemia. Bete Sanches viveu e morreu na dança, deixando inúmeras lembranças boas na memória de todos.

A dança sentirá sua falta, São José sentirá sua falta, sua família sentirá sua falta, mas agora Dona Bete baila no céu, olhando por todos que ficaram.

Elisabete nasceu em São Caetano do Sul (SP) e faleceu em São José dos Campos (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora e pela neta de Elisabete, Tatiana Jenicer Esteves e Mariana Sanches Cimaschi. Este texto foi apurado e escrito por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 29 de março de 2021.