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Eliúde de Faro Carvalho

1945 - 2021

Brilhava na cozinha, ao preparar pratos como se fossem obras de arte para conquistar as pessoas.

Eliúde vivia uma relação de muita parceria e comunhão numa família composta por sete homens e sete mulheres, que tiveram em seus pais sua base e sua fortaleza; pais que se empenharam em ofertar o melhor aos filhos, e cujo amor se estendeu aos netos e bisnetos. Como primeira filha, ajudou a criar os treze irmãos e com eles tinha uma relação muito bonita.

Ela conheceu Élio na vizinhança onde moravam quando ainda eram muito jovens, e se casaram aos 24 e 25 anos, respectivamente. Logo tiveram Ângela, sua única filha, que mais tarde lhes deu o neto Rodrigo.

Conviveram em matrimônio por vinte anos, mantendo uma relação de cumplicidade e de amizade que impressionava a muitos casais. Élio sempre disse que nunca conheceu uma mulher tão íntegra, confiável e responsável como ela.

Em datas festivas, todos se reuniam para comemorar e acolher a quem chegasse. As conversas em voz alta e as gargalhadas contagiantes podiam ser ouvidas a metros de distância. Dentre tantas pessoas, Eliúde se destacava pela satisfação em receber, conversar e cozinhar para todos. A família retribuía sua atenção com muito afeto e demonstrações de amor, assim ela acabou se tornando conhecida pelo exemplo de união e alegria.

Como mãe, Eliúde era dedicada e amorosa. Protegia os seus como uma leoa e fazia qualquer coisa para ver os filhos felizes. Como avó, esbanjava carinho e atenção com o neto Rodrigo, a quem fazia todas as vontades, mas também sabia disciplinar quando precisava.

A paixão pelo neto existiu desde o seu nascimento, conforme conta sua filha: “Quando o Rodrigo nasceu, foi possível ver a dedicação e o amor que irradiavam dela assim que olhou para ele. Foi emocionante!” O maior sonho que carregava consigo era vê-lo se formando numa faculdade.

Muito habilidosa, na cozinha ela era a “fera” que, com mãos de fada, fazia dar certo todos os pratos que decidia preparar. Cozinhava de tudo com maestria: desde o trivial arroz e feijão, até comidas típicas do Nordeste, de outras regiões brasileiras e até de outros países. Fazia salgados, pães, sobremesas, bolos, doces e tortas.

Eliúde usava e abusava desse dom: familiares e amigos sempre esperavam sua chegada, pois sabiam que traria uma comidinha, sobremesa ou um salgado delicioso para compartilhar. Ela gostava de fazer esse carinho, "prendia a gente pela barriga", relembra a filha Ângela. "E a pizza feita por ela era divina”!

Ela também não media esforços para auxiliar os amigos em quaisquer momentos ou circunstâncias, na alegria ou na tristeza. Amigos que lhe retribuíram com lealdade quando se unirem ao sofrimento da família por ocasião de sua partida. “Em meio à saudade que sentimos, fiz dos amigos dela meus amigos. O sentimento tão nobre que sentiam por ela foi repassado a mim, inclusive como uma forma de constantemente rememorá-la”, reforça a filha.

Eliúde era atenciosa, dedicada, frágil. No entanto, ao mesmo tempo, podia ser muito forte, além de alegre, amiga, leal, responsável e fiel. Era extremamente dinâmica, organizada e curiosa. Era forte, destemida, guerreira e dedicou-se à família com muito amor!

Nas horas vagas, estava sempre cozinhando e, nos últimos tempos, orava bastante. Inclusive, tinha um horário específico para realizar as suas orações e esse era um momento sagrado!

Ângela se perde em meio a muitas lembranças e histórias vividas com a mãe:

“Eu tenho uma cadelinha chamada Leona. Quando minha mãe — que era gordinha — se deitava, Leona empurrava a cabeça na barriga de mãinha como um pedido de carinho. Para mim, era muito engraçada essa demonstração de afeto. Hoje, toda vez que Leona faz isso comigo, me reporta àquele momento”.

Ângela também se lembra da mãe quando ouve a canção "Pais e Filhos", da banda Legião Urbana, que "por mais incrível que pareça, estava tocando em frente do cemitério enquanto estávamos nos despedindo dela; especificamente, o trecho que diz:

'É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade, não há'".

E Ângela continua: “Volta e meia, o aroma das comidas que ela preparava me vem à cabeça junto a vontade de saboreá-las novamente.”

Ela se lembra também da beleza da mãe que, “na década 1960, foi eleita princesa do município de Alagoinhas, sua cidade natal".

Dos ensinamentos recebidos, um se destaca para Ângela: “Siga em frente e nunca desista!”

Ela conclui sua homenagem dizendo: “Minha mãe era minha base e fortaleza, ainda sinto sua presença me erguendo e fortalecendo a cada dia”.

"Mainha, pensei que estaria aqui para celebrar as nossas grandes vitórias, mas sei que você está em um bom lugar. Perdoe-me pelas vezes que não disse que te amava. Saiba que você é minha inspiração de todos os dias! Te amaremos para todo o sempre! Sei que nos reencontraremos algum dia para vivermos alegremente pela eternidade!"

Eliúde nasceu em Alagoinhas (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Eliúde, Angela de Faro Carvalho. Este tributo foi apurado por Larissa Reis e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 13 de março de 2023.