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Elizabeth Rose de Melo

1954 - 2020

Uma exímia solucionadora de problemas, matemáticos ou da vida; no aperto, “chama a Beth”, era palavra de ordem.

Elizabeth ainda criança mudou com a família para São Paulo. A transferência ocorreu por indicação médica, depois de uma crise asmática sofrida pela menina. Além da recuperação da saúde, a mudança de ares atendia a um desejo da mãe dela, que, visionária, “carregou a família para uma nova vida”, conta Liamara, filha de Elizabeth.

A infância foi vivida junto dos pais, Sebastiana e Antero, além de três irmãs - a Sandra, a Sônia, a Janete -, e um irmão caçula, o Romildo. “Desde sempre, aprenderam a defender uns aos outros, e a palavra importante era ‘família’, conta a filha. Elizabeth teve um grande amor na adolescência, mas a relação não foi adiante. Mais tarde, conheceu Celso, com quem teve os dois filhos, Anderson e Liamara. Quando casaram, ela estava grávida do primogênito. “À época, a gravidez antes do casamento não era vista com bom olhos, mas ela enfrentou com força e sabedoria aquele momento”, conta Liamara. Depois de sete anos, nasceu a filha caçula, homenageante deste tributo. “Eu fui a menina planejada que ela tanto queria, a companheirinha da vida”, ela diz.

Em 1988 ocorreu mais uma reviravolta na vida da família. “Minha mãe colocou fim no relacionamento. Não se importou com nada, fossem opiniões ou o medo do futuro. Viveu pra gente, pra nos dar suporte e criação”, exalta a filha. Elizabeth cursou o colegial e depois fez Magistério, pois queria dar aulas na igreja. Tocou a vida com a ajuda da mãe e dando todo o suporte aos filhos. “Eu vivia falando para ela: seu papel foi bem feito, mãe. Agora quero que relaxe e curta a vida”, diz Liamara, lembrando a dedicação total da mãe à família.

“A meta da vida dela sempre foi ajudar, a todos e sem pedir nada em troca. Muito religiosa, correu atrás dos estudos, correu atrás para cuidar e formar os filhos, ajudou minha avó quando ela teve problemas de saúde, ajudava a todos. ‘Chama a Beth’ virou uma palavra de ordem na família”, conta a companheirinha."

Durante a pandemia, a religiosidade acompanhou Elizabeth. A filha conta que todos os dias ela rezava duas vezes o terço. Nas orações, pedia proteção aos seus, ao mundo, cura e vacina para todos. No dia a dia, as paixões se multiplicavam entre os filhos e o neto Felipe, a religiosidade e a Matemática, incluindo a prática do jogo japonês Sudoku. “Ainda guardo os jogos que ela finalizava e assinava, nível muito difícil mesmo, sabe? Ela era fera no jogo”.

Era apaixonada por crianças, e ao mesmo tempo firme com o neto. Se o pré-adolescente às vezes implicava com as exigências da avó, ela, com doçura e firmeza, dizia: “a vida é assim, melhor aprender aqui, no amor”, enquanto servia pudim ou bolo de limão, que fazia a cada visita do neto nos finais de semana.

“Minha mãe teve uma história linda, era uma pessoa muito evoluída. Nos amou, cuidou, e por ser diabética, teve complicações causadas pela covid-19. Seu exemplo é o de uma mulher forte, decidida, que enfrentou adversidades para abraçar suas escolhas”, resume Liamara, enfatizando: "Vamos sentir saudades. Brilha, mãe".

Elizabeth nasceu em Passa Quatro (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Elizabeth, Liamara Fernandes de Melo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 1 de julho de 2021.