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Emídio Fideles da Rocha

1973 - 2020

Um homem que foi menino até seu último dia: um filósofo, um matemático, um cozinheiro, um guerreiro...

Esta é uma homenagem de Monnaliza para o irmão, Emídio:

Ele nasceu guerreiro. Foi difícil nascer, foi um fórceps que o ajudou a vir ao mundo. E ele veio Neto, geminiano. Já criança conheceu a dificuldade do mundo e aprendeu a transformar os becos de Barueri em infância. Também conheceu a força de sua mãe, que várias batalhas venceu para ficarem juntos, inclusive a distância, talvez a mais dolorida delas.

Aos 5 anos, deixou de ser Neto e se tornou Rocha e, do nada, de três viraram quatro. Cresceu com seu irmão a tiracolo tomando a atenção e os microfones e, de repente, viraram cinco, um complementando o outro e ensinando que a experiência de um sozinho era pouco.

Logo era adolescente e ele encontrou a primeira sombra, afundou nela sozinho e dela também saiu sozinho, e foi tanta dor e sofrimento até o fundo do poço... Mas ele encontrou a volta, e em sua recuperação, sempre o "só por hoje", o "tamo junto" e o sorriso que Emídio nunca perdia estavam ali persistentes.

Encontrou na recuperação a fé na ancestralidade e a força vital afinada com Inchewe, o Odè que nasceu nas folhas o tornava homem. Deparou com uma doença incurável e recaiu, e se regenerou. Foi um aventureiro e, de tanto se aventurar, encontrou o amor e nele se estruturou, realizou seus sonhos e montou a própria família: dois meninos e um cachorro.

Trabalhou como uma máquina. Estudou como um filósofo. Leu o céu como um astrólogo. Calculou como um matemático. Chorou como criança. Ouviu rock progressivo. Foram tantos em um só... O mal-humorado, o moleque, o birrento, o ciumento, o engraçado, o amante, o conselheiro, o amigo, o marido, o irmão, o filho. No fim era só o Emidio. O Mi. O Fubá. Tinha se encontrado na simplicidade e no retorno às raízes. E dizia que na família ele se reconhecia agora como ser humano.

Ele se reconheceu, marcou nossos corações e seguiu sua jornada. Sei que o sagrado o recebe de braços abertos e, mesmo que nossos corações se encham de vazio e saudades de você, Emidio, sabemos que você fez o seu melhor. Que foi vitorioso na sua batalha.

Vai lá, caçador, e não esquece que nos deixou aqui esperando o momento de te rever.

Em sua memória sempre!

Você será eterno em nossos corações.

Emídio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Emídio, Monnaliza Fideles da Rocha. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2021.