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Erberth Laerti da Silva

1977 - 2020

O pai solo ensinou ao jovem Matheus que ter amigos verdadeiros é mais valioso do que tudo nessa vida.

Foi em um conjunto de prédios de ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial, na cidade do Rio de Janeiro, que Erberth viveu a sua infância. Filho de mãe solo, foi acolhido pelos avós muito cedo, logo quando a mãe percebeu que não conseguiria criá-lo sozinha. O avô, que havia lutado na guerra, era a sua grande inspiração na vida.

Lá no conjunto não faltava tempo para jogar bola com os amigos. O menino Erberth teve incontáveis amigos; e eram amizades daquelas verdadeiras, vínculos afetivos estabelecidos com pessoas que estão presentes em todos os momentos, inclusive os difíceis. Com oito anos, algo inesperado aconteceu com Erberth, foi atropelado por um trem, e no acidente perdeu um dos pés. As amizades se mantiveram, e o distanciamento só aconteceu quando precisou se mudar para ir morar com sua tia Conceição, com quem viveu até 2015 – ano em que ela faleceu.

Desde o acidente, Erberth passou a ser chamado de Peré. O apelido o acompanhou por toda a vida. A valentia e a vontade de viver eram marcas do estilo de vida dele. Quando adolescente, ele não deixou que a nova condição o impedisse de descobrir o mundo, de fazer festa com os amigos, muito menos de se apaixonar.

Ainda jovem, Peré se tornou pai do Matheus. O filho era a sua maior paixão. Novamente, o inesperado apareceu em sua vida, levando Peré a criar Matheus sozinho e a experimentar as alegrias e as angústias da paternidade solo. Nessa época, o apoio da tia foi fundamental. Tudo o que Peré fazia, fazia pelo filho. Trabalhava pensando no melhor que poderia oferecer ao menino.

Na empresa em que foi funcionário era conhecido por fazer amizade com todo mundo – do porteiro ao dono -, sempre com um sorriso largo no rosto.

Foi em 2017 que uma nova pessoa entrou na vida de Peré, a Monique. Com ela, viveu por quase quatro anos. Foi um tempo de tranquilidade e de paz, segundo ele a melhor fase de sua vida.

Peré e Monique tinham uma sintonia ímpar. Desde que se viram pela primeira vez, nunca mais se desgrudaram. Com Monique, Peré gostava de se refugiar em Búzios, o lugar favorito deles. Com ela também dividia as preocupações de pai e ficava feliz de saber que poderia contar com o apoio da amada dali em diante.

O sorriso largo acompanhou Peré por toda sua vida. E um dos motivos que o faziam sorrir era ter na mente e no coração as lembranças do filho: Matheus em seu colo, jogando bola, indo para a escola, entrando na faculdade. Com o passar do tempo o filhinho já se tornara um homem de 22 anos. Com todo seu amor de pai, Peré fez um pedido à querida companheira: "Olha o Matheus por mim".

Erberth nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Erberth, Monique Morgado do Nascimento. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Michele Bravos, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 25 de setembro de 2021.