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Ernesto Cozer Filho

1951 - 2020

Um homem alegre, sensível, divertido e... esquecido! Ah, mas nunca esqueceu de amar, e muito, a sua família.

Sabia falar sobre tudo, de matemática à espiritualidade. E adorava uma boa conversa... Um verdadeiro contador de histórias e amante da vida. Agradecia a Deus várias vezes ao dia pela vida que tinha.

Sempre alegre, adorava fazer gracinhas e tirar risadas de quem estivesse junto. Principalmente, da sua amada Sueli. Juntos riam muito.

Teve duas filhas gêmeas, Patrícia e Carla. E dois netos: Pietra e Otávio. Quando estava internado, soube em primeira mão a notícia de Patrícia, de que seria avô novamente e ficou superfeliz.

"Meu pai biológico é falecido, mas "Coroco", como o chamávamos, dizia sempre que tinha a mim como filha. Então, fui sempre sua filha do coração. Fiz um livrinho de poemas que ele me ajudou a produzir e dediquei a ele, porque ele adorava poesias. Quando jovem, teve um site chamado "Suspiros Poéticos e Saudades". Mas, sem uso, acabou saindo do ar.

Tinha uma parte do cérebro, responsável pela memória de fixação, afetada. Assim, todos os dias eram novos para ele. Ele parecia a Dory de “Procurando Nemo”, mas apesar de não conseguir se lembrar de coisas corriqueiras do dia a dia, jamais se esquecia de sua família, dos amigos próximos e do "Soneto da Fidelidade", de Vinicius de Moraes. Esse, ele sabia de cor, vivia declamando para Sueli. Em seguida, dizia que ela era seu grande amor e cantava "Eu sei que vou te amar". Um apaixonado...

Músicas também eram uma paixão! Pedia para ouvir várias vezes a mesma, se emocionava, chorava e cantava junto. Adorava "Another Brick in the Wall", do Pink Floyd.

Mas, engraçadas eram suas escapulidas à cozinha, quando não víamos. Como ele esquecia que já havia comido, era só nos distrairmos, que ia assaltar a geladeira. E seus desejos eram: bacalhau, pão com mortadela e chocolate.

Ernesto andava devagar e de bengala, mas uma vez chegou em casa e se deparou com uma barata. Imediatamente, ergueu a bengala e saiu correndo para dentro de casa. "Milagres acontecem..."

"São tantas lembranças, tantas saudades. Cada minuto ao seu lado está eternizado em nossos corações. A morte é apenas uma passagem. Futuramente iremos todos nos reencontrar e enfim, poderemos nos abraçar novamente", diz a filha Amanda.

Ernesto nasceu em Mandaguari (PR) e faleceu em São Paulo (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Ernesto, Amanda Izidoro de Lima Freitas. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de junho de 2020.