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Ester Pereira da Silva

1979 - 2020

Amava gente, por isso escolheu como profissão ser uma técnica de enfermagem.

Ester nasceu no Rio de Janeiro, numa família em que outros oito irmãos foram criados. Dos nove filhos, seis eram meninas e três meninos. Ela era tão pequenininha e frágil que a mãe orava para que o bebê abrisse a boca para mamar. A irmã Ruth recorda que Ester sempre foi a mais delicada e frágil de todos. Ao longo da vida, cultivou o amor como característica principal. Amava a família, amava as pessoas, amava o trabalho de “cuidar de gente”.

Na vida, cultivou poucos, mas fiéis amigos. Com a família, transferiu-se, ainda na infância, para o Paraná, em Paranaguá, onde estudou, fez amigos, frequentou a igreja e sonhou o sonho de formar-se profissional da saúde. Ruth conta: “Não havia curso na cidade, então nossos pais pagaram para ela estudar em São Paulo. Lá, estudou duro, encarou sozinha a grande metrópole e assim deu os primeiros passos na profissão”. Ester dedicava-se à atividade não apenas de forma técnica, profissional. À família, contava histórias dos plantões, de como cuidava de cada paciente.

Parte da caminhada como profissional de saúde cumpriu em hospital. Depois, optou por mudar para o ramo da Enfermagem do Trabalho. Arrumou um emprego em uma empresa de Paranaguá e retornou ao lar.

Organizada ao extremo, Ester tinha uma predileção por deixar as roupas muito, muito cheirosas. “Ninguém deixava as roupas tão cheirosas quanto ela. Podíamos abrir o guarda-roupas dias depois dela ter guardado as peças e lá estava o aroma”, relembra Ruth.

Em paralelo à atividade profissional, Ester casou-se com Oséias. Não conseguiu concretizar o sonho de ser mãe, pois não conseguia levar a gravidez a termo. Dedicou muito amor aos sobrinhos e também tinha afeto especial por seus cachorros. Empreendeu muitos esforços para a conquista da casa própria. Levantou e acompanhou a construção, mas partiu quando chegava a etapa dos acabamentos da casa.

Dedicada à família, cuidou do pai, que foi diagnosticado com Mal de Alzheimer, até o fim da vida dele. Ele faleceu onze dias antes da filha.

Ruth, que acompanhou a irmã até o final da vida, frisa que a falta que a irmã faz é tão grande quanto o amor que ela dedicou a todas as pessoas que tiveram a alegria de estar junto dela no decorrer da vida.

Ester nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Paranaguá (PR), aos 41 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Ester, Ruth Tourguide. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho de Souza, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 9 de janeiro de 2022.