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Euclidia Maria da Silva

1945 - 2020

Uma mãe sábia, companheira e amorosa, que lutou a vida toda.

Euclidia nasceu numa família mineira e carente de recursos.

Com a perda da mãe, aos 10 anos, foi trabalhar de empregada doméstica e, ainda nessa idade, precisou parar de estudar, pois a prioridade era ajudar a criar os irmãos.

Nessa situação, Fiíca, como era chamada, cresceu e esteve por muito anos, até se mudar para São Paulo.

Aos 32 anos, casou-se e teve duas meninas, mas foi abandonada pelo marido na segunda gestação, pois ele já havia constituído uma outra família.

Mesmo assim, Fiíca não desistiu do amor. Casou-se novamente, teve mais uma bebê, porém acabou criando sozinha as crianças, em decorrência do alcoolismo do segundo marido.

O trabalho de duas décadas na Prefeitura de Francisco Morato, até se aposentar, proporcionou o sustento e o estudo das filhas.

Além disso, evangélica e temente a Deus, ensinou a elas a trilha para o caminho do senhor.

Silviana diz que a mãe tinha uma personalidade forte; contudo, possuía sabedoria no uso das palavras. E, apesar de uma história de vida com tanto sofrimento, conseguiu deixar seu legado: servir a Deus, não desistir jamais e amar a família.

Entre as preferências da aposentada, cita o gosto por cozinhar e pelas plantas, embora a matriarca focasse todo seu carinho e amor nas filhas e nos netos: três meninas e um menino.

Muito benevolente, disponível para ajudar quem precisasse e bastante disposta, a avó saía da hemodiálise e ia direto buscar uma das netas na escola, enquanto a filha estava trabalhando. Já em casa, ainda fazia o jantar.

"Minha mãe sempre foi uma pessoa muito ativa e não abria mão da sua independência. Não gostava de pedir nada, nem incomodar ninguém", conta Silviana, e completa: "Dizia que estava bem, mesmo que estivesse nítido que não estava".

Em 2012, Euclidia desenvolveu insuficiência renal e, após passar por diálise peritoneal, iniciou o tratamento de hemodiálise. Ela nunca desistiu e nem se entregou. No hospital, fez muitas amizades e ficou bem conhecida por lá.

Durante o período da pandemia, era obrigada a sair de casa para passar pelo procedimento e acabou se contaminando.

"No sepultamento, todos ali presentes haviam sido ajudados por ela de alguma forma", relembra Silviana, e revela nunca ter pensado que pudesse experimentar uma dor tão intensa como sentiu na ocasião da partida da matriarca. “Faltam palavras para expressar tamanho sofrimento”.

Mas hoje, ela acredita que foi feita a vontade de Deus e pensa em Fiíca todos os dias morando ao lado Dele.

"Mãe, te amamos muito, obrigada por tudo que nos ensinou", finaliza ela.

Euclidia nasceu em São João del-Rei (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Euclidia, Silviana Aparecida da Silva Anjos do Nascimento. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Mariana Quartucci, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de dezembro de 2020.