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Eunice Meire do Nascimento

1963 - 2020

Foi uma guardiã do axé dos orixás. Acolhia, como mãe, quem precisasse de colo.

Quem a conhecia e a admirava só tinha um jeito de chamá-la: Nice. Ela adotava as pessoas para que fizessem parte de seu reduto de amor e, por isso, deixa uma família enorme. Deu à luz Bárbara e criou desde pequenos os sobrinhos Jair e Andréa. Mais tarde se tornou como uma segunda mãe para os netos Miguel e Malu.

O que ela tinha a oferecer era de um valor inestimável: acolhimento, abraços, colo de mãe e ombro amigo. Como boa libriana, prezava pela felicidade de quem a rodeava.

Os vínculos que cultivou foram além do sangue, pois sua família de santo também dava a ela a força necessária para enfrentar a vida. "Ialorixá, filha amada de Yansã, com os seus ventos de amor e seus raios e tempestades de ternura, conduzia sua legião de caridade na cura dos males do espírito. Pregava a fraternidade, o amor ao próximo e o fazer o bem sem olhar a quem", é como a descreve seus filhos de santo.

Com Nice não havia dilema que não pudesse ser solucionado. Era daquelas que não deixava para depois, sempre resolvia qualquer assunto na hora e da melhor forma para todos. Esse jeito de ser era um reflexo de suas virtudes, de forma transparente em seus atos e palavras. Nice era resiliente, se adaptava e crescia nas adversidades e se resignava diante da desumanidade, pois "para ela, a maldade alheia era apenas mais um caminho de se chegar ao bem", destaca sua família de santo.

Equilibrava, na mesma intensidade, a bravura necessária para lidar com os desafios diários e a brandura que refletia o grande amor que transbordava de seu peito.

Apesar de não habitar mais este plano, cada um que por aqui fica guarda um pedacinho dela. Nice representa o poder da continuidade, deixando o legado que recebeu de seus pais aos filhos e filhas que amou até o último minuto.

Eunice nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha do coração de Eunice, Fernanda Zecca. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 26 de abril de 2021.