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Fábio José Alves dos Santos

1978 - 2020

No seu aniversário, os convidados tinham que vir vestidos com o uniforme do seu time do coração, o Corinthians.

Para começar, Fabinho era generoso, tinha um coração maior que ele mesmo. Nos tempos de escola, dava sua mochila a um colega que estivesse necessitando, se fosse preciso, chegava em casa com fome, pois oferecia seu lanche para um amiguinho. Depois de adulto, não era diferente, até tirava a roupa do próprio corpo para dar a quem precisasse, não importava se era nova.

Era o único homem de cinco filhos. Quando menino brincava com as irmãs, a beliche virava um ônibus. Era seu sonho ser motorista, dizia para a mãe que queria dirigir pela zona leste da capital paulista. O sonho de infância virou profissão, não só isso, mas também uma paixão.

Para Kátia, sua irmã mais velha, Fábio era divertido e muito engraçado, gostava de dar apelidos e cantar. Sempre soltava um "oshi!", em referência ao pai nordestino. Era também muito bagunceiro, gostava de mandar áudios gritando, nem importava o local. Eles tinham uma música juntos, "You're The One That I Want", do filme "Grease". Eles assistiam a esse filme quando crianças, e isso significava muito para os dois. Em todas as festas dançavam a mesma música, relembrando os bons tempos; assim foi no casamento de Kátia. Ele era um homem muito alto astral, ficava contente pela felicidade dos outros, comemorava como se fosse algo dele. Também era feliz com o pouco que tinha, e dividia esse pouco com os seus. Para ele, sua prioridade era sempre a família. A distância não o separava das irmãs, sempre estavam juntos, fosse por vídeo chamada ou ligação.

Foi casado uma vez, daí veio sua única filha, Pamela Cristina. Era dia dos pais, Pamela havia acabado de nascer. No mesmo dia, Fabinho foi a um show do grupo de pagode Negritude Jr. e foi pedir um autógrafo. Mesmo sendo barrado pelos seguranças, conseguiu ir ao encontro de um dos integrantes, o Netinho, pessoa que ele admirava muito: "Estou muito feliz, acabei de ser pai e conheci vocês!". Foi um dia memorável, tanto para ele como para a família.

Fábio iria se casar novamente. Já no hospital, com Covid-19, brincava com a noiva para descontrair: "Olha aqui, amor, estão me dando banho, se eu fosse você vinha aqui!".

Era inegável sua paixão pelo futebol, foi um corintiano fanático! No seu aniversário, nem a sua filha pequena escapava de ter que vestir a camisa do Corinthians. Certa vez, Fábio foi comprar pães para o lanche da tarde, era um dia em que o Corinthians havia ganhado um jogo. No caminho, passou um ônibus levando torcedores para a Avenida Paulista para comemorar o título... e ele voltou pra casa no outro dia! Fábio era assim, curtia a vida ao máximo. Gostava muito de fazer lanches no estádio, de calabresa, chamar os sobrinhos e compartilhar fotos junto à família.

Fabinho partiu sem dever nada pra vida, pois ele viveu do modo mais autêntico. Sua memória ultrapassa essa homenagem. Sua benevolência, sua fé inabalável, o jeito de aproveitar o que a vida teve a oferecer e o carinho para com a família faz dele inumerável.

Fábio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Fábio, Kátia Maria. Este tributo foi apurado por Raíssa Trelha, editado por Bruno Pereira de Souza, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 28 de outubro de 2021.