1959 - 2020
A tia-mãe, a dona do abraço mais quentinho. A que não sabia, e nem queria, aprender a dizer não.
Tia Kol, a tia mais carinhosa. Cheirosa e vaidosa. Minha segunda mãe, a segunda vó do meu filho e da minha sobrinha.
Enchia-me de presentes quando eu era criança, nem sei quantos anéis, brincos e batons dela eu usei e perdi. Ela não me dava bronca, nunca. Era o cúmulo da permissividade. Logo, a sua casa era a favorita de todos os seus sobrinhos, que são muitos, os de sangue e os de coração.
Dentro da família, circulava por todos os grupos, ignorava brigas e desafetos, não guardava rancor. Podia até brigar, mas na semana seguinte já estava tudo bem.
Adorava falar, conversar por horas. Adorava comer também e fazia um frango cozido bem gostoso.
Fazia amizade em todos os lugares por onde ia.
Foi a pessoa que trazia leveza e carinho para o grupo. Não sabia dizer não. E fazia a gente rir, mesmo sem querer ou perceber, com seu jeito peculiar. Muito prestativa, ajudou muita gente ao longo da vida.
Foi apaixonada por Zezé di Camargo e Luciano, mas seu amor mesmo era Roberto Carlos. Foi ao show com a irmã usando a melhor roupa e maquiagem que tinha.
Ela veio para São Paulo ajudar minha mãe quando meu irmão nasceu e acabou ficando por aqui, só voltava ao Ceará pra passear.
Quando ele nasceu, em 1982, e aprendeu a falar, apelidou-a de mamãe da escola, já que a tia estava estudando na época, concluindo o segundo grau.
Eu nasci um pouco depois, em 1985, e segui a tradição. Ela era a minha mamãe da escola, embora já tivesse terminado os estudos e só trabalhasse.
Quando meu irmão caçula nasceu, em 1994, e começou a falar, abreviou a nomenclatura para Kokol, Kol e, desde então assim ficou.
Cresci com ela, foi minha madrinha de crisma, depois deu sua filha para eu batizar (daí passou a me chamar honrosamente de comadre). Me viu casar, conheceu meu filho que agora tem 2 anos e, infelizmente, não vai poder conviver mais com essa pessoa que estará sempre dentro de mim, minha tia querida.
Trabalhou duro, criou sua filha sozinha (desde sempre dizia que seria mãe de uma menina chamada Letícia e assim foi, uma menina que hoje é uma mulher grata pela mãe forte que teve).
E muitas tantas outras coisas boas para descrevê-la que não cabem em palavras.
Kol, seu carinho, seu abraço gostoso, seu cheiro e sua leveza fazem muita falta por aqui, mas a senhora permanece em nossos corações para sempre.
Felícia nasceu em Buritizinho (CE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.
História revisada por Rayane Urani, a partir do testemunho enviado por sobrinha Híndira Barros, em 20 de julho de 2020.