Sobre o Inumeráveis

Fernando Cesar de Souza Reis

1959 - 2021

Achava que um filme era ruim quando não tinha o final feliz.

Fernando fez de quase tudo na vida: foi garçom, modelo, mestre de capoeira, porteiro de hospital, vendedor de mármore, segurança de balada e muito mais.

Estudou até o 6º ano do Ensino Fundamental, quando teve que abandonar a escola para ajudar o pai no trabalho. Na fase adulta, especializou-se sozinho em consertar máquinas pneumáticas.

Teve quatro filhos homens, e gostaria de ter tido uma menina. Era viciado em chocolate, bolinho de carne, e achava que comer muita cebola e chupar muita laranja o deixaria mais saudável.

André conta que seu pai era uma pessoa intensa, explosiva, estava sempre a duzentos por hora, sempre ligado, atento e sempre certo. Mesmo dormindo, estava agitado. Na infância, era conhecido por “cinco minutos” — o tempo necessário para perder a paciência. Também era capaz de grandes atos de compaixão e de muita sensibilidade, como chorar facilmente ao ver um filme.

Gostava de filme chinês de luta, filmes de guerra e do gênero policial; e para desespero de quem estava junto, costumava adiantar as partes com diálogo. Amava rir com programas de comédia, daqueles de baixo calão mesmo. Não sabia beber: virava o copo inteiro de cerveja de uma só vez. Sempre fumou escondido dos filhos. Gostava de todo tipo de música, desde que o colocasse para cima. Fernando, era o típico ser humano que estava sempre em busca da famosa liberdade.

Apesar de não ter tido muitos amigos, era incrivelmente sociável. Por não ter conseguido entrar no exército, viveu a vida como uma espécie de delegado sem distintivo. Não tinha religião, não assumia o seu time de futebol. Gostava de ser independente e de fazer o que queria.

Agora, onde quer que esteja, Fernando descansa. Desfruta da liberdade que sempre buscou e deixa saudades.

Fernando nasceu São Paulo (SP) e faleceu Londrina (PR), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Fernando, André De Ulhoa Canto Reis. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Malu Marinho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2021.