1970 - 2020
Não suportava ver crianças em situação de risco. Lutava contra o preconceito e a desigualdade.
Fernando nasceu em 12 de julho de 1970, em São João, na baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Filho primogênito de pais nordestinos, amorosos e muito humildes, teve de começar a trabalhar desde cedo. Ainda na infância, junto com o pai, vendia bala nos trens durante as horas vagas. Para cooperar com as contas de casa, trabalhava em obras, cuidava de galinhas e colmeias. Era uma criança muito serelepe e bagunceira, gostava de soltar pipa e colocar pedras na linha do trem. Andava de bicicleta por trinta minutos, todos os dias, para chegar a sua escola.
Sonhava em ser piloto ou médico, mas suas condições familiares não permitiram. Durante a juventude, trabalhou consertando televisões. Sempre estudou em escolas públicas e foi aprovado para estudar física na UFRJ, porém resolveu seguir carreira como bombeiro e posteriormente entrou para a Polícia Militar. Era um gigante de 1,92m.
Casou-se com Adriana e teve duas filhas, Gabriela e Fernanda. Fazia questão de demonstrar o amor que sentia por elas. Era um pai muito presente e carinhoso e procurava agradar com ótimos pratos e seu tempero sem igual. Fazia cada delícia! Sempre apoiou o sonhos de suas meninas e desejava criá-las ensinando os mesmos valores que seus pais haviam lhe passado: a fé, a honestidade, o respeito e o trabalho. Além da família, Fernando amava seu gatinho, o “Zequinha”. Os dois eram inseparáveis.
Tornou-se Tenente-coronel da Polícia Militar após muitos anos de trabalho e esforço. Foi um dos dois únicos homens negros a chegarem a este cargo em uma turma de 70 oficiais. Era muito querido na corporação e depois que morreu, recebeu uma homenagem do batalhão onde trabalhava: um centro de oração com o seu nome. Sonhava em aprender a tocar a Bachianas, de Villa Lobos, com seu violão, e em morar perto da praia. Amava estudar sobre tecnologia, ciências e ver corridas de Fórmula 1 todos os domingos.
Nunca se deixou abater pelos preconceitos. Pelo contrário: lutou contra a desigualdade, era voluntário em projetos de auxílio a policiais aposentados e de proteção e conscientização de crianças em situação de risco. Era católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida; visitava o santuário anualmente.
Pouco antes de completar 50 anos, Fernando partiu, em 25 de maio de 2020. Deixa saudades e lembranças únicas na vida da família e amigos.
Fernando nasceu em São João de Meriti (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Fernando, Gabriela Meneses Estevam Pereira. Este tributo foi apurado por Daniela Almeida Lira, editado por Gabriela Meneses Estevam Pereira, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 29 de junho de 2021.