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Fernando Rodrigues Pedreira

1944 - 2020

Muito amável, sabia da brevidade da vida e cuidava da alma terrena para que pudesse partir em paz.

Fernando era farmacêutico. Nascido numa simpática cidade do sul de Minas Gerais, foi para São Paulo, mas mesmo assim não perdeu suas raízes e ainda amava os doces e sorvetes de marolo, as pamonhas e um bom franguinho com quiabo.

Na capital paulista, onde constituiu família com Cláudia e, nos vinte e dois anos de uma linda união teve seus filhos, Fernando também trabalhou e se aposentou, mas não sem antes cativar cada colega de trabalho e, inclusive, Dr. Manoel, o patrão, que costumava chamá-lo de Nandão e nutria um especial carinho pelo funcionário de longa data.

Fernando era muito sociável, gostava de ter contato com as pessoas, de contar piadas... Era alegre e agradável no trato, um grande amigo e dono de um bom coração. Também gostava de viajar e era muito religioso, aliás como toda a sua família, Fernando ia regularmente às missas.

Cláudia revela que era comum que ele dormisse com a TV ligada. Não era sempre, mas muitas vezes ela dizia que iria desligá-la e, a pedido dele, mantinha o aparelho ligado e assim ele dormia o sono dos justos; afinal, Fernando trabalhava com afinco: acordava diariamente às 4:45 da madrugada para tomar seu banho, fazer a barba e estar pontualmente às 7 horas da manhã na farmácia. Talvez, por ser tão exagerado com a pontualidade, jamais se atrasou e nunca faltou ao serviço. Foi assim a vida toda. "Eu sempre dizia para ele dormir um pouco mais, mas ele fazia questão de madrugar e seguir sua rotina de banho e barba feita antes de sair, sem nunca se atrasar", conta Cláudia.

Fernando se importava muito com os filhos, preocupava-se quando era necessário, queria sempre saber como todos estavam e era muito carinhoso com eles.

Cláudia conta com muita leveza e carinho as lembranças dos momentos vividos ao lado de Fernando e sorri ao relembrar quando quase arrebentaram um saco de lixo que estava vazando, tamanha era a aflição do marido em tirar o lixo da cozinha: "Ao tirar o saco da lixeira, percebi que estava pingando e pensei em colocar num outro saco maior e só então levar até a lixeira do andar, mas ele puxava o saco de um lado e eu do outro, cada um na sua ânsia de logo resolver a situação". Ela continua: "ele puxava da minha mão e eu dizia: "tá pingando" e ele retrucava: "não tá pingando, não!" e eu repetia: "tá pingando, sim!" E assim o casal ficou nessa situação que gerou muita risada e, sempre que se recordavam do ocorrido, riam ainda mais. A disputa pelo saco de lixo só acabou quando, resolvido, Fernando puxou para si o saco de lixo e disse: "Dá isso aqui" e partiu com o saquinho pingando até a lixeira do prédio.

O sonho de Fernando pode ser resumido por uma frase que disse para a amada logo que se conheceram: "Cláudia, a vida é muito curta e a gente tem que cuidar da alma aqui".

"Eu nunca me esqueci dessas palavras dele. Cuidar da alma aqui, na Terra, pra morrer em paz, sabe? O Fernando não tinha muita ambição pra dinheiro, ele só queria viver bem aqui na Terra, com a paz de Cristo e ser feliz. Era isso que ele queria. Esse era o sonho dele".

Claudia finaliza sua linda homenagem ao homem que estará sempre em seu coração, com um nobre gesto de empatia e desprendimento, desejando que 2021 seja ─ para todos ─ um ano cheio da graça de Deus com a luz, a paz e o amor de Cristo e de Nossa Senhora, e esperando que a vacina que ainda aguardamos seja muito bem-elaborada.

"Eu vou ter o Fernando sempre, eternamente no meu coração. Sempre, sempre! E eu sinto ele constantemente muito pertinho, muito juntinho de mim", finaliza com amor a esposa.

Fernando nasceu em Alfenas (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa e pelo irmão de Fernando, Cláudia do Prado Mello Pedreira e João Carlos Pedreira Bonsucesso. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 23 de janeiro de 2021.