1938 - 2020
Tem quem escreva sua vida como uma linda narrativa, na qual até o fim, sempre coube um novo conto.
"E então meu tio se foi. Não vou falar dessa doença pesadelo. Quero falar da referência que esse tio querido deixa: a de um homem que escolheu uma parceira para a vida toda, que construiu com ela uma família linda, pela qual sempre demonstrou orgulho.
Meu tio Fernando foi um cidadão comum, que compreendeu o papel social de cada um, participando ativamente da virada à esquerda da igreja católica, assim como, lá no início, filiou-se ao PT que, embora muitos tenham escolhido esquecer, foi um partido fundamental, num momento histórico.
Meu tio doce e quase tímido nunca recuou diante da vida, reinventou-se, após a aposentadoria, desenvolveu seu amor às palavras, continuou lendo, aprendendo, publicou um livro de contos aos 80 anos; descobriu um grupo para aprender a cantar, dançar e pintar.
O que meu tio aprendeu e nos deixa, é que não adianta só esticar a vida, é preciso alargá-la, e isso se faz alimentando o interesse pelo mundo, pelo outro, pela vida em si."
Fernando encerrou sua narrativa com um desfecho que ele não escreveria, mas viveu uma história que dá gosto de contar. E, já que não podem vê-lo, nem abraçar, Evelise o imita escrevendo. Porque para quem tem palavra, o amor dura muito além do corpo.
Fernando nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
História revisada por Rayane Urani, a partir do testemunho enviado por sobrinha Evelise Paulis, em 21 de julho de 2020.