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Fidelcino Alves de Santana

1934 - 2020

Um baiano arretado, teimoso e incrível.

“Baiano arretado!”, assim a neta Lorena descreve seu querido avô que viveu a maior parte de sua existência em Goiás onde conheceu sua esposa de uma vida inteira, Dona Célia.

Fidelcino foi casado por sessenta e um anos, teve três filhos, seis netos e sete bisnetos. Conta Lorena que seu avô amava sua avó de paixão e apesar de “muita rusga, esse casalzinho era inseparável”. Costumavam provocar um ao outro, mas era mesmo uma forma de dizer que não podiam viver sem o outro.

Lorena tem na memória o tom engraçado com que seu avô falava da avó: "sua vó acorda tarde demais porque fica a noite toda no zap e um tal de Instagram". Mas a avó rebatia prontamente: "já que gosta de acordar cedo, aproveita e faz meu café da manhã". E foi assim, durante todos os anos de casados, Fidelcino sempre preparou o café da manhã de sua esposa.

Dois de seus grandes prazeres eram ouvir música nordestina e contar histórias de sua infância pobre na Bahia. Diz Lorena, que ele também “paparicava os netos sem limites, com dinheiro, carinho ou mimos”.

Quando Lorena resolveu mudar sua vida, conta ela que, enquanto a avó lhe enchia de perguntas sobre os motivos, seu avô apenas disse: "não importa o motivo, só quero que você seja feliz, minha filha".

Fidelcino era saudável e tinha apenas duas fraquezas, diz a neta: doce e vinho. Não ficava doente e chegou às suas Bodas de Diamante em plena forma, celebrando com uma festona que reuniu toda a família. Foi muita felicidade.

Um dia, a Covid-19 o pegou e, conta Lorena, que seu avô teimoso não deu a devida importância. Ele dizia: "eu nasci pra trabalhar, minha fia!", e não se cuidou. Deixou sua família desolada e com um vazio imenso.

Lorena se despede com o coração entristecido e cheio de saudade: “te amamos ontem, hoje e sempre, meu vozinho!”

Fidelcino nasceu em Barreiras (BA) e faleceu em Aparecida de Goiânia (GO), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Fidelcino, Lorena Teodoro Alves Lopes. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Míriam Ramalho, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de outubro de 2020.