1957 - 2020
Como fundador do Instituto Mouco, saiu de moto pela cidade perguntando a cada pessoa sua intenção de voto.
Flávio cresceu e viveu acostumado e cercado por muitas pessoas ao seu redor. No amparo do seio familiar, onde era o sétimo filho de onze, marido, pai de três filhos e avô de quatro netos; na infância, quando fugia da escola pra jogar bola com os colegas; já em sua vida adulta, como presidente do seu amado Comercial Atlético Clube de Campo Maior, e como um apaixonado flamenguista, time da maior torcida do país.
Como bem dizia sua sobrinha Alessandra, “era uma pessoa alegre e brincalhona, mesmo diante de tantos problemas”. Talvez o melhor exemplo seja a deficiência auditiva com a qual Flávio nasceu, e sabiamente soube lidar, brincando com o próprio apelido “mouco” que o acompanhou durante a sua vida. Vivia movido por duas paixões: sua família e o futebol.
Um eterno enamorado por sua esposa Ieda, partilhava com ela amor e companheirismo. Tiveram três filhos: Raimundo Neto, Flávia e Iolanda. Não hesitava em lhes passar a mensagem de que “mesmo na dificuldade, é possível encontrar motivos para sorrir”. Também era muito atento e cuidadoso, não só com seus filhos, mas também com sua netinha, que com ele morava.
O futebol o acompanhou por toda a vida. Foi presidente do Comercial por mais de vinte anos, atingindo o ápice em 2010, quando foi campeão piauiense. Disputou duas vezes a Copa do Brasil, que lhe permitiu viajar pela primeira vez de avião, em 2011. Na ocasião, os jogadores e colegas do clube tentaram enganá-lo: inventaram que estavam desembarcando em Recife, e não em Fortaleza, o que deixou o presidente apreensivo, já que precisavam fazer a conexão no Ceará pra chegar em São Paulo. Porém, leitor assíduo que era, percebeu a brincadeira ao ler o jornal local, divertindo-se com a "pegadinha" de que fora vítima. Diversão, aliás, realmente não faltou em sua primeira viagem de avião: durante uma turbulência, Flávio se abraçou na cabeça do passageiro do assento à frente - por não entender muito bem o que ocorria -, o episódio também rendeu boas risadas com seus amigos.
Família e futebol se uniram em um memorável sábado da Semana Santa de 2008, quando a família e os sobrinhos estavam reunidos e acompanharam juntos o clássico da cidade. Foi um jogo incrível, com o Comercial virando quase no fim pra cima do seu rival, que não derrotava havia um certo tempo. Flávio estava muito feliz, foi um dia marcante em que todos festejaram muito.
Ele era incansável. Não satisfeito em brincar com o próprio apelido de “mouco”, ele também fundou o Instituto de Pesquisa do Mouco, que fazia estudos sobre curiosidades e política. O instituto chegou a ser divulgado na Revista Eugênio, que dedicou um quadro contando sobre uma pesquisa eleitoral feita pelo “Mouco”, que saiu de motocicleta pela cidade perguntando aos cidadãos em quem eles iriam votar pra prefeito.
Um de seus maiores sonhos era ver seus três filhos graduados. Ele mesmo era filho de professor e diretor acadêmico; mas não ingressou na universidade, pois escolheu seguir o caminho da vida, que o levou ao posto de servidor público federal, além de presidente de clube.
Como descreveria sua sobrinha, com quem tinha uma divertida relação de carinho e cooperação, “ele era muito engraçado, dedicado à família e, apesar de tantos problemas, estava sempre feliz. Eu o admirava bastante por sua alegria e vontade de viver”.
Flávio era filho de Raimundo Nonato e Maria Mirtes, e irmão de Alberto, Paulo, Ana Maria, Sílvio, Lúcia, Marcílio, Regina, Patrícia, Helmo e Aldira.
Flávio nasceu em Campo Maior (PI) e faleceu em Teresina (PI), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado Sobrinha de Flávio, Alessandra Andrade Souza. Este tributo foi apurado por Thierry Silva, editado por Thierry Silva, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 8 de dezembro de 2021.