1962 - 2021
Fã de rock e apaixonado por sua família, unia as duas grandes paixões indo a shows com as filhas.
Dono de um coração enorme, Francisco ou Chico, como era mais conhecido, tinha prazer em ajudar e não costumava guardar mágoas de ninguém. Era brincalhão e gostava de fazer gracinhas, como danças esquisitas, só para escutar as risadas de quem amava.
Gostava de encontrar os seus amigos e dar festas; inclusive, foi numa dessas comemorações em sua casa que conheceu o amor da sua vida, a Rosa. A moça, recém-chegada de Barbacena, Minas Gerais, tinha amigos em comum com Chico. Logo começaram a namorar, noivaram e o casamento aconteceu depois de três anos de relacionamento. Tiveram a filha, Raisa, e decidiram "fechar a fábrica". O destino, então, veio surpreendê-los e trouxe um lindo presente: Ana Clara, que foi acolhida de braços abertos e completou a família.
A relação de Chico e Rosa foi marcada pela parceria entre os dois: faziam quase tudo juntos e, com o passar dos anos, foram ficando cada dia mais unidos, no decorrer dos trinta anos de casados. Francisco cantarolava uma canção especial para a amada e tinham planos de viver no interior.
É impossível falar de Chico sem falar de sua paixão pelo rock. Sua banda preferida era AC/DC, e ele fazia questão de escrever isso em todos os lugares, até mesmo em seu endereço de e-mail. Foi em todos os shows de rock que pôde, a ponto de comprar os ingressos e às vezes escondê-los de Rosa, para ela não ficar brava, já que os bilhetes não eram baratos. Esse, aliás, era um programa que o unia às suas filhas, suas parceiras na paixão pela música. "Um dos momentos mais especiais com meu pai foi em um show do Pearl Jam. Estávamos muito felizes, cantamos todas as músicas e aproveitamos cada segundo. Fomos com minha prima, que meu pai considerava uma filha, e com o melhor amigo do meu pai, Pedro. Os dois foram a mais de 20 shows juntos. Eram como irmãos", recorda Raisa.
Nos shows, Chico gostava de ficar na pista, vestindo suas camisetas pretas com logotipos de banda e com um molho de chaves sempre preso na calça. Aliás, Chico era o "dono das chaves"; todas as chaves da casa tinham que estar com ele, pois tinha o hábito de verificar se todas as portas estavam mesmo fechadas. "No meu casamento, enquanto dançava a valsa comigo, as chaves, presas à cintura, ficavam balançando. Ele era tão apegado a elas que nem nessa data importante deixou-as sob a responsabilidade de alguém", conta Raisa. Chico também gostava de reunir toda a família na sala de casa para assistir filmes, comendo pipoca e pizza. Gostava também de dirigir escutando música. Sua canção preferida era Back in Black, do AC/DC.
Durante toda a vida, trabalhou na área financeira em bancos e corretoras. Por ter começado muito cedo, aposentou-se aos 53 anos. Pouco tempo depois, a empresa em que trabalhava demitiu-o. Esse fato deixou-o muito chateado, porque amava ter uma ocupação. Para complementar a renda da família naquele período Rosa começou a trabalhar. Dessa forma, com a parceria do casal, passou a haver uma nova dinâmica na família: ela trabalhava fora, e ele assumia os afazeres da casa. Porém, Chico nunca perdeu a fé de "voltar à ativa", como ele mesmo dizia. Estava sempre buscando oportunidades, participando de entrevistas, realizando cursos de atualização e rezando terços. Escreveu até mesmo uma cartinha para São José, pedindo a graça de um novo emprego.
Em outubro de 2020, a tão sonhada recolocação profissional tornou-se realidade, e a filha contou essa história em uma rede social. "Fiz uma postagem contando sobre o processo de recolocação do meu pai, e o texto repercutiu muito. Ele ficou todo orgulhoso pelas mensagens de incentivo", conta Raisa. Mesmo morando longe do trabalho, não reclamava de levantar às 4h10min da manhã, para pegar o ônibus logo cedo. Toda sexta-feira, na volta, trazia doces da padaria para a família.
Ele estava cheio de planos. Com o dinheiro do seu salário, queria arrumar a casa. Para a família, todos os momentos fazem lembrar de Chico. "Teve uma vida muito feliz: divertiu-se, riu, viajou e conheceu lugares bonitos e pessoas boas. Vamos sentir a maior saudade do mundo aqui!", diz a filha Ana Clara.
Francisco nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelas filhas de Francisco, Raisa Morgana Andrade e Ana Clara Andrade. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Marília Ohlson, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 30 de novembro de 2021.