1941 - 2020
Levou água para muita gente por esse Ceará todo.
Conhecido como Nélio, tinha orgulho de ser aposentado como servidor público federal e de ter trabalhado na construção de vários açudes no Ceará, isso é mesmo muito importante para a região seca do nosso país.
Apaixonado pela segunda mulher, a Odete, que conhecia desde garoto, carregava ela na carteira pra baixo e pra cima, não descuidava da foto deles dois juntos de jeito nenhum, mesmo estando separados atualmente. Por ela, Francisco deixou os vícios de beber e fumar, e entrou para a igreja. Pensava em ficar curado logo, só para ir vê-la mais uma vez.
Teve três filhos, duas mulheres e um rapaz, e tinha quatro netos. Em datas especiais, quando todos se reuniam, ele se emocionava ao ver a família que tinha, e era orgulhoso por ver o que seus filhos tinham se tornado.
Era inquieto e gostava de reclamar do lixo na cidade. Também era de lascar... gostava de tomar picolé de salada de fruta, sempre com leite condensado. Obviamente sem poder, porque era diabético. Pra ele bastava tomar os remédios da glicemia e pronto, tava tudo certo. Podia comer o que quisesse. Também gostava de comer peixe frito e feijão, todos os dias.
A cidadezinha que ele foi morar depois que se aposentou é a sua cidade natal, Maracanaú. Ela fica a 24 km da capital. É o maior centro industrial do estado e é conhecida como a maior cidade-dormitório do Ceará. Por essa proximidade, muita coisa era feita em Fortaleza, mas pra ele tudo bem, o que não queria era sair de lá, provavelmente porque gostava de estar sempre perto “dela”... Mas “um dia quebrei o pé e ele veio me visitar aqui em Fortaleza e trouxe feijão pra mim, que ele mesmo cozinhou. E tava bom!”, conta Necilma, a filha mais velha.
Aos domingos tava lá, todo banhado, vestido com sua “roupa de domingo” para ir à igreja. E depois, à noitinha, ia pra praça fazer um lanche e já pegava um outro para levar para a morena do seu coração - a Dona Odete – com quem continuava casado no papel e por quem ainda mantinha laços afetivos.
Muito vaidoso, o pouco cabelo que tinha estava sempre arrumado e devidamente pintado de preto, não descuidava da aparência. “Ele apreciava muito as mulheres e... não podia ver uma bem-apanhada, que já sorria e fazia um galanteio, mesmo no hospital, tirando sangue... pense!”, arremata a filha.
Filho do Seu Chico Guilherme, homem bom, trabalhador e honrado!
Francisco nasceu em Maracanaú (CE) e faleceu em Maracanaú (CE), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Francisco, Necilma Macêdo de Sousa. Este texto foi apurado e escrito por Alessandra Capella Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de julho de 2020.