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Francisco Carlos Cardoso

1965 - 2021

Chico foi festa em ritmo de samba; com seu inseparável pandeiro, levou muita alegria para todos.

A alegria típica da infância de Francisco, com amigos jogando futebol e andando de bicicleta, continuou em todas as fases da vida. Para ele, tudo era motivo para festejar, a sua residência era conhecida como a casa das festas. Amava receber, tocar o inseparável pandeiro, colocar os presentes para sambarem e sorrirem.

Ele e a filha Juliana tomavam uma cervejinha juntos sempre e só paravam de dançar quando quebravam algo. Era como uma senha. "É, deu por hoje, vamos para dentro", diziam. Sempre levava o pandeiro para aniversários. Se Chico estava, o parabéns tinha um ritmo diferente.

Declarava o que sentia pela esposa, Rosana, com "Descobri que te amo demais", de Zeca Pagodinho, seu maior ídolo. Chico dizia que essa seria a música de 50 anos de casados, na verdade, já era de tanto que ele cantava para a mulher.

A história dos dois começou quando ela tinha 15 anos e ele 17. "Me apaixonei desde o primeiro olhar, ele não sabia, trabalhávamos juntos e brigávamos diariamente até que ele me roubou um beijo, em seguida disse que eu seria a sua esposa", conta Rosana sobre o amor arrebatador que sentiam. Nesta época, ele também era chamado de Maloca.

Faziam tudo juntos. Quando a esposa já era aposentada e ele ainda não, ligava sempre. Nas bodas de casamento, 1 de setembro, ele dizia "Parabéns pra nós, muié". Depois de se aposentar, compartilhava os afazeres domésticos, os cuidados com os avós que Rosana cuidava e tudo mais que precisasse. Ele acompanhava a esposa nas missas de domingo quase sempre, caso faltasse, falava: "Reza pra mim, muié". Católico, era devoto de Nossa Senhora Aparecida.

Amava mostrar o que fazia para a companheira, tinha predileção por trabalhar com madeira. O genro Derli era como um filho, faziam tudo juntos. O marido da filha trabalhava com entregas, se o endereço era muito distante, senhor Francisco se sentava no banco do carona para fazer companhia. A netinha Nádia era o dengo do avô. Ele era o responsável por buscá-la na escola até o último ano antes de partir.
Rosana gravou o amor pelo marido na pele. Tatuou um pandeiro alado e com auréola angelical. "Ninguém me amou assim. Eu também o amo além da vida", declara.

"Não me sinto viúva, mas sua eterna esposa, não vamos esquecê-lo jamais".

Francisco nasceu em Suzano (SP) e faleceu em Suzano (SP), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Francisco, Rosana Aparecida Soares Cardoso. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 12 de janeiro de 2023.