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Francisco de Oliveira

1942 - 2020

Guerreiro, subia as rampas do Maracanã com muita felicidade para ver o Fluminense jogar.

Seu Chico era da época em que os bombeiros ainda andavam pendurados nos carros a caminho das emergências. Salvou muita gente assim, como bombeiro militar. Um verdadeiro herói na sua profissão.

Mais tarde, já aposentado, tomou gosto por andar de bicicleta. Pedalava mais de dez quilômetros quase todos os dias. Uma de suas filhas até contestava, preocupada, dizendo que Chico não tinha mais idade para tamanha distância. Ele logo revidava, com vigor e bom humor: “velha é você!”

O rádio, seu companheiro de longa data, vivia a preencher os silêncios do universo de Chico. Mas não com músicas! Chico gostava era de ouvir as notícias. Vivia informado e não se contentava em guardar as novidades só para si. Ser o primeiro a transmitir as informações quentinhas para o restante família era seu divertimento.

Foi casado com Antônia de Castro Oliveira e, embora não estivessem mais juntos, continuavam amigos, constantemente apoiando o crescimento de suas três filhas mulheres: Lucia, Claudia e Vânia.

Os netos, por sua vez, eram sua joia rara, ocupavam um cantinho especial no coração do vovô. Duda, filha da Vânia, era seu xodó, “minha princesa”, como ele dizia. Já Lucia colocou no mundo três meninos: Jean, Jefferson e Rodrigo.

Jefferson está de casamento marcado. A cerimônia será em Curitiba, no Paraná e as passagens do avô Chico já estavam compradas. Mas, a vida mudou seu destino de última hora e Chico não vai conseguir ver o neto no altar.

De sua relação com a família, sua filha Vânia seleciona as melhores palavras para defini-lo: “sempre cuidadoso, fazia questão de estar presente em todos os momentos, fossem eles especiais ou tristes. Com um coração enorme, cuidava de todos. Podia estar longe, mas se alguém o chamasse, lá estava ele, prontamente, para cuidar e zelar pelos seus.”

Inquieto, vivia a procurar coisas para fazer. Tanto é que um dia, durante a quarentena, foi tentar arrumar o telhado de casa. Caiu e quebrou o maxilar. A cirurgia foi um sucesso, mas logo após sua recuperação, os sintomas da Covid-19 começaram a aparecer.

Seu Chico nunca gostou de hospital. Quando internado, já até tentou fugir certa vez. Acontece que ele não queria dar trabalho às pessoas. “Fala pra todos que estou bem, pra não se preocuparem. Se cuidem vocês” foram suas últimas palavras.

E, antes dessa homenagem chegar ao fim, sua paixão pelo Fluminense não pode deixar de ser destacada. Torcedor fanático, era assíduo nos jogos do seu tricolor. Mesmo com dificuldades para andar, subia as rampas do Maracanã com um sorriso de orelha a orelha.

Aliás, o guerreiro não teve tempo de saber da última novidade do Flu. Mas, Seu Chico, a gente te conta: o Fred voltou!

“Ele ia adorar saber disso”, revela a também guerreira, Vânia.

Francisco nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Francisco, Vânia de Castro Oliveira Souza. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júlia Palhardi, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 20 de junho de 2020.