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Francisco José da Silva

1974 - 2020

Do trabalho com o vidro nasciam os sonhos: casa própria, viagem em família e aposentadoria na roça.

Esperançoso de tempos melhores, o vidraceiro Francisco José nunca perdeu o humor, ou o gosto por contar piadas – nem durante os longos anos em que aguardou um emprego com carteira assinada. Teve quatro filhos: Marcos Vinícius, fruto do primeiro relacionamento, e depois Jéssica, Ítalo e a pequena Maria Helena, raspinha de tacho, nascidos da união de dezoito anos com Cinthia Cristiane.

“Era um ser maravilhoso, disposto a ajudar as outras pessoas, dedicado à nossa família”, conta a esposa. Lembrando do amor à primeira vista, Cinthia volta no tempo para o dia em que ambos, convidados para a festa de aniversário de uma amiga em comum, cruzaram os olhares, e a partir de então não se separaram mais.

Na rotina do vidraceiro, o trabalho era uma constante, tivesse ou não carteira assinada. “Trabalhava e sonhava... Com a casa própria, com uma viagem com a família, com morar na roça depois da aposentadoria”, lembra Cinthia. Uma das últimas alegrias foi conquistar um novo emprego.

Além do trabalho, havia os pais, Francisco e Maria, e os seis irmãos. Entre eles Cícero, a quem Francisco era muito agradecido por ter sido o professor do ofício da vidraçaria, a fonte do sustento de sua família. Filho, irmão, pai e marido amoroso, Francisco também era muito religioso. Para os amigos e parentes, era sinônimo de alegria.

Sua trajetória deixou saudades e certezas. A de ter sido um homem íntegro, alegre, amigo dos amigos e dedicado à família em cada segundo da sua vida. “Todos os dias ele passava na casa dos pais, para receber a bênção e saber como eles estavam”, conta Cinthia.

Francisco, que trabalhou desde criança, que vendeu pão e olhava carro, tudo para ajudar os pais, se tornou um homem admirado e muito amado. Viveu intensamente e foi um exemplo para todos que o cercavam. “Ele foi o amor da minha vida e soube disso a cada dia da nossa vida juntos”, resume Cinthia Cristiane.

Francisco nasceu em Planaltina (DF) e faleceu em Brasília (DF), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Francisco, Cinthia Cristiane Oliveira da Conceição. Este texto foi apurado e escrito por Patrícia Coelho, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 22 de julho de 2021.