1941 - 2020
Simples, sereno e sorridente, ele gostava de organizar as fotos para ter sempre à mão as melhores lembranças.
Ele era de Itabira, a Cidade do Ferro, também conhecida como a Capital da Poesia. Foi lá que nasceram duas pessoas notáveis pela sensibilidade: UFMG, como Marconi se apelidava, e Carlos Drummond de Andrade.
Foi sem dúvida um homem virtuoso. Prova disso era o respeito que incutia em todos que o conheciam. Estar próximo a ele inspirava a vontade de se tornar uma pessoa melhor. Talvez o maior segredo, desse e de tantos outros méritos que possuía, estivesse em ser uma pessoa simples. Simples no tratar, simples no sorrir, simples no querer agradar, simples no viver, simples em não revelar o bem que tanto espalhou em sua jornada.
Ser um homem virtuoso é cuidar dos pequenos detalhes da vida, e saber que as pessoas somente terão lembranças de coisas boas, de momentos construtivos, alegres e valorosos, esquecendo o que entristece e não mais convém. E foi seguindo essa filosofia que ele levou seus dias, espalhando alegria e fazendo sorrir a todos em seu entorno — o que o deixava muito satisfeito! Foi o companheiro inseparável de sua amada esposa, Maria Rosa, durante cinquenta e oito anos; o pai cuidadoso das filhas exemplares; e o vovô super brincalhão, que chegava a entrar no cercadinho de bebê para poder brincar com os netinhos que tanto amava.
As memórias lhe eram tão caras, que chegou a transformar todos os seus mais de 100 discos de vinil em CDs; além disso, com sua caligrafia perfeita, descrevia todas as suas fotos impressas e organizava tudo isso meticulosamente. Dessa maneira tinha as lembranças dos bons momentos sempre ao alcance.
Marconi era um bom cidadão e um bom amigo. Bom filho, irmão, marido e um bom pai. Um homem que tinha a habilidade de conquistar o respeito de todos que o cercavam. Um homem que sempre se esforçava para levar um pouco de alegria às pessoas. Nas festas, era o mais animado: organizava troca de presentes, dança das cadeiras, karaokês e muitos micos.
Criativo, era o campeão em inventar estórias, brincadeiras e comemorações com muita música de tempos que jamais se apagarão. Foi eleito o Rei Brega em inúmeras celebrações, quando fazia todos gargalhar ao tocar repetidamente a canção "Ai, minha mãe", do Falcão. Não obstante, revelava ter gosto refinado ao admirar e cantar músicas italianas, como Al Di La, na versão de Emilio Pericoli, cuja letra faz referência ao amor que ultrapassa os limites desta vida.
Marconi agia sem tocar trombetas diante de si, como aprendeu com Nosso Bom e Maior Mestre. Ele estendia a mão aos aflitos na calada da noite, e sempre socorria quem dele precisasse quando chamado pelo telefone. Quando via alguma injustiça, silenciosamente buscava consertá-la. Buscava a paz e empenhava-se por alcançá-la todos os dias.
A sua simplicidade poderia esconder, aos olhos menos atentos, toda a sua sabedoria. A sabedoria que fez com que buscasse viver cada segundo da forma mais alegre possível. A simplicidade, qualidade rara, da qual não se vangloriava. Mas, criativo e brincalhão, dizia aos próximos ser o famoso UFMG: "Unforgetable" Francisco Marconi Gonçalves. Ele realmente era uma pessoa impossível de esquecer.
Francisco nasceu em Itabira (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Francisco, Marcelle Santos Vieira Salles. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Lucas Gonçalves Rangel, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 27 de julho de 2021.