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Francisco Paulo Vieira da Silva

1970 - 2020

Percorria três dias de viagem de barco de Manaus a Tefé, para rever irmãos e as delícias do lugar.

Paulinho, como era carinhosamente chamado, foi um pai de coração bondoso. Como avô zeloso, sempre buscava saber como estavam os cinco netos e gostava muito de estar com eles. Com seu jeito sério e pensativo estava sempre atento ao que se passava, quando podia fazia questão de colaborar.

No cotidiano, estava sempre em contato com os quatro filhos Paulo, Sabrina, Mayara e Dayane. Em respeito ao jeito de cada um, buscava ajudar e colaborar na resolução de questões desafiadoras do cotidiano. Com seu cuidado, participava ativamente dos acontecimentos envolvendo toda a família e sabia valorizar as alegrias de cada dia e ser apoio quando alguém precisasse.

Em relação aos netos João Vitor, Alice, Cibely, Caio e Enzo, teve carinho por todos. Recebeu com alegria e emoção o nascimento de cada um deles. Não havia pedido ou desejo manifesto ao avô que ele não buscasse realizar o mais rápido. Contudo, havia um quê especial na relação com Enzo, o mais novo, a quem Francisco chamava carinhosamente de “Brancão”. Mesmo doente, fez questão de pedir que cuidassem dele.

O aniversário de dez anos de Cibely foi um momento muito especial para Paulinho. A festa, organizada sem que ela soubesse e com a ajuda de Paulinho, foi a última comemoração familiar da qual participou. Na celebração, Francisco irradiava uma enorme alegria, facilmente perceptível por um brilho único no olhar.

Shirley foi o amor de sua vida. Foram vinte e cinco anos de casamento, marcados por muito cuidado e afeto. A viagem realizada pelo casal em 2019, juntamente com a filha Dayane, para Fortaleza (CE), foi um momento muito especial para os dois. Amantes das praias e dos banhos de mar, Francisco programava um outro passeio com ela para a capital cearense, sonho que não teve tempo de realizar.

Muito calmo, ele resolvia todo assunto de família com a esposa. Buscava saber a opinião dela e somente com o consentimento de dona Shirley encaminhava as soluções. Essa postura de escuta e parceria foi uma das marcas da relação dos dois, o que contribuiu para que fossem um casal muito unido e amoroso.

Na profissão, procurava cumprir com todas as suas tarefas da melhor maneira. O trabalho como Empilhador em uma Indústria de Motocicletas, exigia muita concentração e cuidado. Guiando a empilhadeira, transitava pelo estoque levando e trazendo componentes necessários à fabricação das motos. Para não provocar nenhum acidente, era cuidadoso ao colocar ou retirar os paletes em prateleiras muito altas. Assim, conquistou o respeito dos colegas de trabalho e dos gestores da empresa onde foi funcionário durante um bom tempo.

Nas horas vagas Francisco gostava de passear em cidades próximas à Manaus (AM). As preferidas eram: Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo e Iranduba. Algumas vezes somente com dona Shirley, noutras vezes com toda a família. Também gostava muito dos banhos de rios e cachoeiras, que ficam no meio da Floresta Amazônica. “Ele gostava muito de banhos e sítios...só pra descansar” conta o filho Paulo Henrique.

As comidas típicas da região eram outra paixão de Paulinho. Saboreava tudo com calma, principalmente os peixes, encontrados sempre frescos depois de pescados nos Rios Amazônicos. Seus prediletos eram o Tambaqui assado sem espinha e o Pirarucu também assado na brasa. Outros modos de preparo dos quais gostava muito eram a caldeirada de Tambaqui e o Pirarucu com banana, especialidades de dona Shirley que tinham um tempero inconfundível.

Quando dispunha de mais tempo, ia visitar os irmãos Dora, Hosana e o mais velho Magno, que moravam em Tefé. Para isso, eram três dias de viagem de barco até poder curtir as delícias e belezas do lugar e o aconchego da casa dos parentes. Enquanto o barco navegava pelo rio, aproveitava para conversar e curtir a paisagem. Nas noites de viagem descansava na rede armada no barco.

Os outros irmãos Pedro, Deuza e Nila também moravam em Manaus. Francisco e os seis irmãos são fruto do amor de Seu Pedro por Dona Ester. E aqui é importante contar um fato. Aos 81 anos, a mãe somente soube do falecimento de Francisco três dias após o acontecimento. No momento do comunicado disse que já sabia, pois recebera a notícia através de um sonho e que as mães sentem a perda de um filho.

Homem de fé, frequentava assiduamente sua Igreja Evangélica, a devoção era tanta que, aos domingos, ele fazia questão de abrir as portas da própria casa para a realização de cultos que reuniam outros membros da igreja. Mesmo cansado, buscava cada fiel que morasse longe e depois das orações levava todos de volta. Nos momentos de oração, fazia preces pela família.

Francisco segue vivo nas lembranças dos momentos de carinho e nas realizações de toda a família que ajudou a tornar realidade.

Francisco nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Francisco, Paulo Henrique Silva e Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ernesto Marques, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 5 de novembro de 2021.