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Francisco Roberto De Oliveira

1971 - 2020

Beto era festeiro; quando não estava preparando drinks a trabalho, criava motivos para festejar com a família.

Ele trabalhou por mais de trinta anos com barracas de bebida em eventos; daí a origem do seu apelido, Beto Drinks. O trabalho para ele era uma diversão, e esforçava-se ao máximo para marcar sua presença nos eventos de Araruama — em especial quando eram nas festas da cidade. Suas barracas se tornavam uma atração à parte. Eram as mais vistosas e mais bem transadas: grandes e super coloridas, tinham uma iluminação diferenciada e um cardápio muitíssimo variado, cujo destaque era uma de suas criações, o drinque que fazia alusão a Jamaica e ao "reggae".

Era carismático e impecável no atendimento aos clientes, pois para ele todos eram amigos, queridos, irmãos. Gostava sempre de estar bem-vestido. Amava comprar roupas e tênis. Mesmo sendo um trabalhador informal, queria estar sempre arrumado e estiloso.

Para seus funcionários ele era o Papai Beto ou Paizão, porque buscava sempre fazer algo a mais do que a sua obrigação enquanto empreendedor. Beto era aquele tipo de pessoa que estava sempre disposta a repartir o pouco que tinha com quem precisava e não agia de modo diferente com quem trabalhava com ele.

Suas grandes paixões eram a família, praia, churrasco, cantar no caraoquê (embora não fosse tão afinado!) e torcer para Mengão.

Quem o via próximo aos filhos mais velhos, Jéssica e Lucas, fruto do casamento de vinte e nove anos com Rosana Pinto, imaginava de imediato que se tratava de irmãos. Mal sabiam que o Beto se tornara pai muito cedo. O grandioso coração de ambos acolheu como filho o Kassiano. Com os filhos era possível notar uma sintonia fina, um companheirismo. Trabalhavam juntos nas barracas de drinques, e o Beto fazia questão de acompanhá-los em tudo: estudos, baladas e na prática esportiva, como os treinos na academia e as caminhadas. Anos mais tarde, já em outro relacionamento, Beto celebrou a chegada da Kethelyn, a quem também dedicou muito amor e atenção.

“Apesar da nossa separação, continuamos amigos e principalmente unidos na educação dos nossos filhos, que continuaram a morar com ele; por isso estávamos sempre em contato, dividindo tudo sobre o bem-estar dos meninos. Hoje eu sinto muita falta desse cuidado de pai, dos conselhos e das decisões”, ressalta Rosana.

Aquele grande homem, de cara marrenta, era sensível; tinha suas vulnerabilidades, como todo mundo tem, mas tinha também um grande coração. Carinhoso, amoroso, excelente pai, amigo e avô. Roberto Lucas, Valentina e Théo aproveitaram bastante a companhia do "vozão", que com eles virava criança. Algumas de suas lembranças poderão ser compartilhadas com a Ayla, a netinha que chegou após a sua partida.

O seu trabalho no ramo do entretenimento talvez tenha sido o motivo para que ele tivesse um gosto musical tão eclético. Gostava de todos os estilos de música: serestas “das antigas”, MPB e sertanejo. Raul Seixas, Alcione, Raça Negra, Amado Batista e Fábio Júnior tinham um espaço especial na sua "playlist".

Quem convivia mais de perto com o Beto conhecia um pouco das suas manias. Ele era tão vaidoso que penteava os cabelos até antes de dormir. Adorava massagens, dar e receber abraços e, entre os amigos, era conhecido como o "rei" das transmissões ao vivo numa rede social. Ele era muito prudente com algumas coisas... não trocava o chuveiro com medo de levar choque! Evitava as fortes emoções que só as aventuras proporcionam.

Beto foi intenso em tudo o que fez. Cedo constituiu família, ousou e arriscou em diferentes negócios. Amou tanto quanto foi amado. Comemorava com festa todas as suas conquistas. Talvez tivesse a sensação de que a sua vida seria breve, e por isso fosse sempre inteiro — e não metade — nas relações que constituiu no trabalho, na vida e no amor.

Beto nunca se deixou abater diante das dificuldades. Quando a vida lhe oferecia limões, ele os utilizava para fazer os mais deliciosos drinques. Por seu histórico de batalhas, pela disciplina no trabalho, pelos laços fortes de família e de amizades que construiu ao longo da vida, o Paizão Beto entre os seus estará sempre presente.

Francisco nasceu em Araruama (RJ) e faleceu em Araruama (RJ), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela amiga e ex-esposa de Francisco, Rosana Pinto dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por Fabricio Nascimento da Cruz, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 28 de outubro de 2021.