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Francisco Rodrigues de Oliveira

1941 - 2020

Marido, pai e avô amoroso. Gentileza e humildade definiam como lidava com a vida e tratava as pessoas.

Francisco, o Chicão, como era carinhosamente conhecido, casou-se com o amor da sua vida, Dona Aldair, e desse amor nasceram cinco filhos: Maria Nilda, Armando, Isaías, Edna e Leonor.

Trabalhador, sempre fez de tudo um pouco: foi pedreiro, encanador, lavrador. "Trabalhava muito para que sua esposa não precisasse fazer grandes esforços, pois era uma mulher muito debilitada", fala Edna sobre o pai.

Mas o que gostava mesmo era de contar histórias de sua juventude para os filhos e netos.

Quando estava em casa, adorava tomar sol deitado no quintal e cuidar de seus bichos. Até cantava para seu papagaio.

Brincalhão, gostava de contar piadas. Outro de seus hobbies era colocar apelidos engraçados nas pessoas da família.

"Meu pai adorava meus cabelos cumpridos. Um dia resolvi cortar bem curto e quando ele me viu começou a rir, dizendo que eu me parecia com uma raposa velha", Edna relembra com ternura.

Francisco sonhava em visitar os familiares na Bahia. A filha conta que suas últimas palavras representavam outro sonho: "Ainda vou comprar uma van para viajar com a família toda". Ele deixou esse desejo para seus descendentes realizarem.

Homem bom e caridoso, foi um marido, pai e avô amoroso. Gentileza e humildade eram suas características no trato com a vida e as pessoas. Agora deve estar contando suas histórias no céu.

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A neta Bruna de Oliveira Moreira escreveu este poema:

Nunca pensei que tamanha dor fosse suportável ao meu ser
A saudade esmaga meu coração de forma lenta e agonizante
Ainda consigo ouvir seus passos no quintal ao amanhecer
Seu cantarolar em sintonia com os pássaros
Sua voz suave ao contar sobre a juventude
Sobre os bailes e as belas moças que por lá conhecera
Lembro das broncas rotineiras e do seu abraço pelas manhãs
Dos lugares que sonhava em conhecer ou “reconhecer”
Do seu olhar de espanto ao ouvir meus planos
Acreditava fielmente na minha completa loucura
Dizia que minha forma de amar era quase um enigma
Já são quase cinco meses esperando ouvir sua voz
Todas as manhãs procurando sua silhueta no quintal
Mas a única coisa que vejo é um grande vazio
De repente minhas coloridas manhãs desapareceram
Só consigo ver meu mundo cinza e sem calor
Um abismo sem fim, sem vida e sem amor.

Francisco nasceu em Boninal (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Francisco, Edna Rosa. Este tributo foi apurado por Carla Cruz, editado por Cristina Marcondes, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.