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Franklin de Araújo Ponchet

1950 - 2020

Um homem que transbordava luz, e fez disso seu ofício: iluminar todos os lugares por onde passava.

Sua luz e seu amor, envolviam todos que, com ele, partilhavam o dia a dia.

Assim era Franklin, nascido em Manaus, quarto filho de uma prole de dez, pertencente a uma família humilde. Deixou o leite materno cedo, não aceitou mingau ou leite. Quando queria comer, sentava-se num batente da cozinha e dizia: "mamãe, rof", era assim que ele pedia arroz.

Ainda menino, procurava um matadouro de boi próximo a sua casa e ali, prestava serviços, auxiliando os trabalhadores do matadouro. Em troca, ganhava alguns pedaços de carne que servia para a refeição do dia.

Morou às margens do Rio Negro. Na época em que o rio estava cheio, ele e os irmãos usavam como transporte canoas ou troncos de árvores para atravessarem o rio para irem para a escola. No Amazonas, os pais ensinam seus filhos a nadar muito cedo. Assim, preparam seus filhos para a vida com o rio, a fim de não perde-los durante as cheias. Sua mãe, Dona Clara os ensinava a nadar jogando-os nas águas do rio ainda pequeninos. Quando via que iam se afogar, os resgatava.

Também era comum irem tomar banho no Igarapé do Franco, que tinha águas límpidas.

Franklin se formou em Eletrotécnica, e dos 62 municípios do Amazonas, ajudou a iluminar pelo menos 58, trabalhando para a Companhia Elétrica da Amazônia.

Era muito presente na vida dos irmãos e mantinha uma relação de afeto inabalável com eles. Sempre solícito, era o "consertador" de toda a família. Para Franklin não tinha tempo ruim, consertava chuveiro elétrico, ferro de passar, ventilador, fazia instalação elétrica e hidráulica... Não media esforços para contribuir, de forma simples, na vida de alguém. Estava sempre disponível.

Quando morou em São Paulo, foi professor de elétrica por quatro anos no Senai. Posteriormente mudou-se para a Bahia, onde conheceu o amor de sua vida, Marilene, com quem casou e teve seus três amores: Nathalie, Ághata e Tainá, que criou de forma digna e honesta.

Quando viajava pelo interior da Bahia para instalar luz elétrica nos altos sertões, ficava compadecido pela pobreza da região. Identificava famílias para, na próxima jornada, levar roupas para doar. Para ele, não era sacrifício dividir o pouco que tinha com os necessitados.

Adorava conversar com seu papagaio de estimação pela manhã.

Chamava cada filha de uma forma: Nathalie era a “Natal”, pois nasceu no dia 25 de dezembro, Ágatha era a “galega” e Tainá era "Índia, botocuda, suburucu, carcará, sanguenolenta. A sem-terra".

Em meio às expressões cotidianas como "ai, ai, ai, eu tô é mololó com essa menina" e "Chora não, Piculú de vô", Franklin era a expressão mais doce que o norte pode oferecer: Um autêntico homem de luz, metaforicamente falando. Um pai cujo amor às filhas era imenso, inexplicável. Sua lembrança faz os olhos das filhas brilharem e se encherem de orgulho ao falar dele, cheio de singularidade e valores que transcendiam corpo, matéria e espírito.

Jamais será uma estatística.

Franklin nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Salvador (BA), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Franklin, Thainá Oliveira Ponchet. Este texto foi apurado e escrito por Ygor Expedito Gonçalves, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de julho de 2020.