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Geni Ferreira de Lima

1940 - 2020

Marcava presença em todas as ocasiões especiais para os netos, chegando uma semana antes da data.

Crescida numa família de quase dez filhos e em meio à música, por conta das habilidades do pai com instrumentos, Geni tomou gosto pela bossa nova e pela música popular brasileira, ritmos que sempre entoou com afinação ao longo da vida. Quando jovem, chegou a ajudar os pais na padaria da qual eram proprietários, enquanto completava os estudos do ensino fundamental e, segundo a filha Eliane, aprendeu a “fazer uma rosca como ninguém”.

Mas sua missão era ser mãe e avó. Na quarta gravidez, quando Cristiane, Joseane e Viviane ainda eram pequenas, Geni ganhou, de surpresa, um presente de aniversário: as gêmeas Liliane e Eliane. A comemoração também era dupla – por ser seu aniversário e pela chegada das duas meninas, numa época em que a ultrassonografia ainda não acontecia nos exames de pré-natal.

Aos 45 anos, Geni enfrentou a tristeza e o desafio da viuvez com as cinco filhas para criar. Como servente de um colégio, deu sustento à família com garra e muito trabalho. Conseguiu ainda que todas conquistassem o diploma universitário. Era durona e exigente, mas se desdobrava para agradar o seu quinteto feminino. “Ela nos ensinou a sermos mulheres, filhas e mães e a nunca desistirmos dos nossos sonhos”, fala com orgulho Eliane. E completa: “Era nosso porto seguro. Provou todos os dias que amor de mãe vale por todos os tormentos, por todas as dificuldades e que ele é o grande impulsionador da força, do querer.”

Aos oito netos também não poupou amor. Ela sempre esteve presente, em tudo, e tomou parte na criação deles. Com cada filha morando numa cidade diferente, dividia seu tempo revezando-se em passeios e cuidados na casa delas, para onde ia participar de qualquer comemoração dos netos, fosse aniversário, formatura, primeira comunhão. Eliane conta que “ela chegava uma semana antes e já ficava lá a postos.”

Na sua própria casa, por outro lado, a culinária de Geni era o que atraía as reuniões da família, que se deliciava com a bacalhoada e a rabanada de Natal feitas por ela, que também caprichava nas receitas mineiras para fazer jus às origens.

Eliane reforça que a mãe manteve uma família linda e unida e deixou ensinamentos, exemplos dignos e inesquecíveis na vida de todos que tiveram a sorte e o privilégio de conhecê-la. E se despede com os versos de Tom Jobim e Vinícius de Moraes:

“Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar...”

Geni nasceu em Camanducaia (MG) e faleceu em Pouso Alegre (MG), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Geni, Eliane Ferreira de Lima Balestra. Este texto foi apurado e escrito por Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 21 de dezembro de 2021.