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Geraldina Gomes Costa

1945 - 2020

Seus biscoitos assados no forno a lenha eram como uma declaração de amor.

Vó Dina foi uma mulher inspiradora e sempre pronta para ajudar; com seu jeito generoso de ser, adotou Camila, a esposa de seu neto Felipe, suprindo a falta que a moça sentia dos avós que não chegou de ter por perto.

Ela era uma mineira "raiz" que cozinhava como ninguém, principalmente especialidades da cozinha de Minas, seguindo receitas que só ela executava com tanta maestria, e que era servido com café em tardes maravilhosas. Seu enorme coração que não cabia no peito, era o que a movia quando organizava os tantos almoços em sua casa. Era em volta de sua mesa que a família se reunia nos Dias das Mães, Páscoas, Natais e seus muitos aniversários.

Foi casada durante sessenta anos, dedicou-se exclusivamente ao lar, desempenhando com doçura os papéis de esposa, mãe e avó. Dina e Tido se conheceram muito jovens e, em seguida, foram para o Paraná, e de lá para São Paulo. Tiveram três filhos e cinco netos, que foram criados com uma mistura de garra, luta e amor, tendo como resultado uma boa educação.

Vó Dina e vô Tido passaram por muitas dificuldades ao longo da vida. Uma das filhas, a Veni, conta histórias do passado aos mais jovens, para que possam ter uma ideia de como era a situação de seus antepassados. Ela relembra passagens da vida de seus pais em meio a muita emoção, fazendo questão de reforçar seu reconhecimento e gratidão pelo que fizeram em prol dos filhos.

Segundo ela, sempre que vô Tido tinha um dinheirinho sobrando, coisa rara de acontecer, trazia para os filhos um doce chamado pé de moleque, e isso era motivo de grande alegria para a meninada, porque não era todo dia que podiam saborear essas guloseimas.

Vó Dina era uma pessoa muito alegre, carinhosa e amorosa que gostava de fazer lindos bordados em suas horas livres, e também de fazer piada de tudo e de todos. Não perdia a oportunidade de colocar sua mão, sempre fria como uma pedra de gelo, nas costas de quem estivesse distraído, provocando um grande susto.

Camila conta qual foi o momento mais marcante na sua convivência com Geraldina: “Foi no meu casamento, quando ela e meu avô Tido levaram as alianças até nós. Ela estava muito emocionada, e eu também, porque tive a honra de receber minhas alianças de suas mãos. Não tive uma relação próxima com meus avós biológicos e, desde que eu cheguei na família, ela me acolheu como neta, sempre muito carinhosa comigo e meus familiares”.

Ela se recorda de parte de uma música da cantora Maria Betânia que ouviu pela primeira vez numa reportagem sobre mortes causadas por Covid e que a fez, imediatamente, se lembrar de Vó Dina:

"Como esta noite findará
e sol, então, rebrilhará
estou pensando em você
Onde estará o meu amor?"

Camila tem uma resposta para a pergunta desse verso: "Sei que está dentro de nós e irá sempre viver, olhando e intercedendo por todos. Obrigada vó, por tudo e por tanto”.

Geraldina nasceu em Rio Pardo (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Geraldina, Camila Rodrigues Costa. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, Larissa Reis e Karina Zeferino, editado por Vera Dias, revisado por Elias Lascoski e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2021.