1966 - 2020
Fez da sala de aula o palco principal de sua vida.
Bastava alguém dizer: “agora é a aula do Pimentinha”, que as coisas mudavam. Todos os alunos ficavam atentos à chegada do professor como quem espera Paul McCartney entrar no palco. E com Geraldo Pimenta, qualquer aula ganhava ares de espetáculo. Através das dancinhas, músicas, piadas e até fantasias, entender Geografia ficava muito mais fácil.
Não era o professor carrasco, muito pelo contrário. Geraldo tratava seus alunos como se fossem seus amigos e, por isso mesmo, tinha a liberdade de trocar os nomes de alguns quando não lembrasse os verdadeiros. E assim ajudou várias Bernadetes, Janetes e MacGyvers a entrarem na faculdade.
Em 1991, o mineiro resolveu trocar o tutu pelo tacacá. Foi dando aulas no projeto Carajás, no Pará, que conheceu Luzia, sua parceira e o amor de toda sua vida. Dessa união nasceu a Mônica, para quem ele foi um superpai. O carinho e a atenção dedicados à família se refletiam na ajuda com os trabalhos escolares, nos cuidados com a casa e, até na hora de comprar roupas — ele sabia exatamente o que seria perfeito para agradar as duas. Isso, sem falar da comida deliciosa que Geraldo fazia para as festas, especialmente, uma torta de limão, que acabava, assim que ia para a mesa.
Na infância, queria tanto ser o Super Kid que acabou ganhando da família o apelido de “Kid”. Mas Geraldo era de fato um super-herói. Não tinha um problema que não pudesse ser resolvido quando um amigo ou parente pedisse a ajuda dele. E se ele não conseguisse, bastava trocar um dedinho de prosa com São Judas Tadeu, de quem era devoto. Repetia que a gente precisava ter fé em alguma coisa, independente do que fosse.
Para recarregar as energias, além de estar sempre cercado de pessoas queridas, gostava muito de música. Ouvia Maria Bethânia, Rita Lee e os clássicos da Bossa Nova. Se chegasse em um barzinho e tivesse música ao vivo, logo escrevia um bilhetinho, pedindo para que tocassem “Catedral” da Zélia Duncan. E quem ouvia Geraldo cantar no karaokê, poderia até se questionar como ele não era o maior artista mineiro depois de Milton Nascimento.
Mas o fato é que ele era imbatível mesmo na arte de ensinar. Depois de passar vinte anos morando com a família em Minas, dando aulas em escolas de Uberlândia, Belo Horizonte, Teófilo Otoni e Governador Valadares; Geraldo decidiu que estava na hora de voltar para o Pará e ficar perto da natureza.
Trabalhou um pouco como administrador de empresas, área em que ganhou vários amigos, até que, finalmente, voltou a fazer o que mais gostava. Nos últimos momentos de vida, Geraldo estava feliz dando aulas para comunidades ribeirinhas.
E mesmo todo bom professor, às vezes, erra. O erro do Pimentinha foi não ensinar o que fazer com a saudade que todos vão sentir dele.
Geraldo nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Belém (PA), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Geraldo, Mônica Pimenta. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriel Máximo, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de outubro de 2020.