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Geraldo Rodrigues da Costa

1944 - 2021

Autodidata, desenhava plantas que impressionavam qualquer engenheiro.

Seu Geraldo era um plantador. O semeador, também conhecido como Lalado, pelas pessoas que soube cativar, plantou a casa que ele mesmo projetou e construiu. Plantou o gosto pelos livros e pelo conhecimento nas filhas Alcioni, Maria Inês, Marcella e no filho Éverton. Plantou a alegria nas brincadeiras com os netos Caio, Mariana, Lucas, Beatriz, Theo, Miguel e Gabriela. Plantou o amor pela festa e pela celebração da vida. Plantou um pomar no terreno em que morava. Tudo isso ao lado de sua companheira de cultivo por quarenta e sete anos, Dona Georgina.

Geraldo foi polivalente. Era considerado craque de futebol em Santos Dumont (MG), cidade em que nasceu. Falava com orgulho da conquista do campeonato mineiro de 68, como profissional pelo Vila do Carmo, time de Barbacena. Foi dono de uma discoteca chamada Chão de Estrelas e também foi um construtor autodidata.

Seu apreço pelo saber fazia com que comprasse em todas as oportunidades possíveis enciclopédias e obras de literatura para a família. Parte das estantes de casa eram ocupadas por exemplares da coleção literária “Jóias Brasileiras”. Nas noites em que faltava luz, acendia velas e reunia as filhas para momentos de leitura coletiva.

Seu Geraldo era um metalúrgico que trazia nele a memória operária, mas que sabia que o trabalho era feito para a vida e que a vida era feita de samba, de cerveja com amigos, de casa cheia e de alegria. Lalado foi um homem que soube fazer do chão árido de um começo de vida difícil, com poucas chances de educação escolar e com limites materiais, um terreno fértil para semear amor.

Seu Geraldo gostava de queijo, de castanha de caju, da família ao redor e de festejar a existência, que permanece em quem não vai esquecê-lo. Tudo que sua companheira Georgina soube tão bem resumir em poesia:

“Queria segurar, prender, prolongar,
mas a rima é saudade, vida, amor que
mora dentro. E está presa num plano
maior e com certeza se prolongará
através das vidas dos filhos, netos e
tudo que brotará para sempre.”

Geraldo nasceu em Santos Dumont (MG) e faleceu em Juiz de Fora (MG), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Geraldo, Alcioni Escobar da Costa, Maria Inês Escobar da Costa e Marcella Escobar da Costa. Este texto foi apurado e escrito por Paulo Vicente Alves Cruz, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 19 de maio de 2021.