1926 - 2020
Amante da música clássica e torcedor do Grêmio e do Ypiranga, seu espírito livre tinha ainda muita gana de viver.
Gaúcho de coração e curitibano por escolha, era o patriarca da família e um sobrevivente ─ passou por mais de cinco cirurgias cardíacas ─, e ainda tinha a disposição e a saúde de um adolescente. Gerhardt, mais conhecido como Geraldo, era do tipo que fazia amizades num piscar de olhos e jamais perdia um jogo do Ypiranga ou do Grêmio, não deixava de ouvir músicas clássicas nem largava seu chimarrão.
“O Vô Geraldo era uma peça. Um ser humano único, daqueles que cumprimentava qualquer pessoa na rua, sempre com seu sorriso embaixo do bigode branco, trajando uma roupa social ─ nunca usava bermudas ─ e com seus dois companheiros inseparáveis: a boina e o pente que guardava no bolso” conta a neta Nicole.
Era uma pessoa incrível, “sabia tudo sobre tudo”, garante a neta. Era também o maior torcedor do Grêmio do Brasil. Foi casado com sua primeira esposa por mais de sessenta anos e, após ficar viúvo, já com seus 91, encontrou novamente o amor, no ponto de ônibus, bem em frente à casa onde morava. Um ano depois, casou e a família voltou a aumentar, tornando as reuniões habituais ainda mais festivas.
“Por um curto espaço de tempo a nova companheira pôde estar ao lado dele, oferecendo atenção, amor e risadas para o nosso velhinho. Ele dizia que viveria até os 100 anos ─ e tinha uma saúde de ferro para os seus 94, então a gente acreditava mesmo”, confidencia a neta.
Era independente, andava de ônibus até o centro sozinho, ia à farmácia, fazia as compras... Nunca dependeu de ninguém, era um espírito livre e carinhoso com todo mundo, legado que toda família Krüger carrega, assim como a forma das orelhinhas de abano, que a genética presenteou a todos.
A família Krüger é daquelas que costuma se reunir aos domingos, porém, durante a pandemia, houve a necessidade de cessar esses encontros e de se isolar em casa. “A ficha ainda não caiu, talvez no próximo almoço de família quando a pandemia acabar", pondera Nicole e conclui: "Basta ouvir uma música clássica ─ durante a juventude ele tocou por muito tempo em orquestras do Rio Grande do Sul ─ que é impossível não sentir sua presença. Tenho certeza que minha avó está lá em cima cuidando dele e que, ao menos, a família pôde realizar um de seus pedidos: morrer sem sofrimento. Graças à incrível equipe médica, tivemos essa chance. Vô Geraldo vai continuar sendo a lenda e o patriarca da nossa família para sempre.
Até o próximo almoço, Vô.”
Gerhardt nasceu em Erechim (RS) e faleceu em Curitiba (PR), aos 94 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Gerhardt, Nicole Krüger. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 16 de fevereiro de 2021.