1927 - 2020
As filhas ainda se lembram das moedas que ele trazia quando voltava do trabalho.
As filhas ainda se lembram das moedas que ele trazia quando voltava do trabalho.
Gerino conheceu o que era a vida muito cedo. Ao chegar em casa, quando trabalhava nas festas dos interiores com jogos de baralho e fichas, as filhas mais novas sabiam que dali vinha alegria. Ele abria a maletinha e jogava as moedas que ganhava dentro. Genileide, a Geninha, e Gerivalda, a Vadinha, faziam a festa. Hoje choram ao lembrar.
Também vendedor nas feiras, Gerino nunca teve medo. Saiu de Sergipe para São Paulo, num pau de arara, para buscar duas sobrinhas que ficaram órfãs. Depois da viagem, considerou as duas feito filhas e, depois de um tempo, trouxe-as para entre os seus próprios. Não havia diferenças. No total, tinha seis filhos biológicos e as duas sobrinhas-filhas.
Ao abrir a porta de casa, sempre chamava por Marêza. Passaram 52 anos juntos, até que ela faleceu. Ali, um pouco de Gerino foi embora e ele desenvolveu Alzheimer. Antes disso, quando tinha 70 anos, Gerino sofreu com a perda gradativa da força nas pernas, que lhe fazia andar de bicicleta até seu terreno, na zona rural de Sergipe. Forte como poucos, Gerino nunca conseguiu negar um trabalho ou uma responsabilidade.
Foi pai, quando o seu próprio pai morreu. Era o filho mais velho e alguém tinha de cuidar da família. Gerino, Gerino... 92 anos de luta.
“A Covid levou o meu pai. Eu não pensei que eu passaria por isso. Uma cena triste. A insuficiência respiratória... Horrível. Minha irmã e eu éramos as mais novas, então ele sempre tinha uma coisa para gente. Que saudade do meu pai”, disse Genileide.
Gerino nasceu em Ribeirópolis (SE) e faleceu em Aracaju (SE), aos 92 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido filha de Gerino, Maria Genileide Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Josué Seixas, revisado por Lígia Franzin e moderado por Edson Pavoni em 22 de julho de 2020.