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Gilson Bastos dos Santos

1943 - 2020

Era único, marcante e um sarrista nato. Andava sempre com seu chapéu e, nos bolsos, histórias e piadas pra contar.

Esta é uma carta aberta da sobrinha Andreza para seu tio, Gilson:

Ainda criança, fui apresentada à imensa dor que uma perda provoca. Com a morte do meu pai, senti pela primeira vez esse vazio, que sem aviso prévio toma conta do coração. Poucos foram os se mantiveram próximos e acompanharam meu crescimento. O senhor foi um deles.

Hoje, já adulta, quando alguém querido parte, o que mais me dói é não ter a chance de me despedir. Eu só queria poder vê-lo, dar umas boas gargalhadas com você, abraçá-lo uma última vez e enfim lhe dizer o quanto sentiremos saudade.

A vida não espera e mais uma vez não deu tempo.

Não havia quem te conhecesse e não pensasse: “Gilson esteve aqui”.

Único e marcante em todos os sentidos. Sempre foi um homem inteligente, com uma visão além dos outros, um matemático do destino. Às vezes rabugento, mas era um sarrista nato, tinha sempre uma história pra contar e uma boa piada guardada no bolso. Andava por aí com seu chapéu e seu largo sorriso. Esse sorriso, que distribuía sem cerimônia, era dado a qualquer um, independente de como o seu dia estivesse.

Minha impressão é que, mesmo em tempos difíceis, a vida contigo era uma grande festa. É isso: uma festa sem fim! Sempre debochando de tudo... Implicando e rindo de todos!

E só me lembro do senhor assim, sorrindo a todo momento.

Sempre admirei tanto sua autenticidade! Considero essa a sua característica mais marcante de todas.

Nos últimos dias, estive triste e, em meio as minhas reflexões, cheguei à conclusão de que contigo eu não preciso me preocupar. Tenho a convicção de que está bem, pois sei que aonde quer que for, estará cercado de amigos. Os novos amigos ficarão encantados com o seu jeito único e os antigos amigos dirão: “Ah, o Gilson chegou aqui!”

Gratidão por todos os nossos momentos, querido tio.

Gilson nasceu em Muritiba (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Gilson, Andreza Paz. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 16 de dezembro de 2020.