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Gilson Ferreira

1948 - 2020

Tinha orgulho em ser chaveiro. Solidário e prestativo, fazia serviços de graça para quem não podia pagar.

Vindo de família simples, morou com os pais e irmãos num sítio em Cláudio Manoel, no distrito de Mariana, em Minas Gerais, e aos 7 anos mudou-se para São Paulo.

Quando pequeno, ajudou os irmãos na atividade de pedreiro. A ideia tinha sido de sua mãe, que gostava de ocupá-lo quando o rapaz não estava estudando, para que parasse de “roubar” as galinhas do quintal junto com os amigos inseparáveis Dinho e Zé.

Aos 18 alistou-se no Exército. Como lembram os familiares, Gilson foi preso algumas vezes, sempre por desobediência. Apelidado de Gilsão, era um homem sério, de personalidade muito forte e coração enorme.

Fazia uma fezinha na Mega-Sena toda vez que ia ao mercado, de onde sempre trazia uma pera suculenta para a Dona Catarinona, como passou a chamar a esposa, Antonieta. Era um dos raros momentos em que era agraciada com algo diferente do usual “kit de manicure”. Depois do segundo kit, ela começou a guardá-los, como conta, com carinho.

A relação com o primeiro filho, Eduardo, era conflituosa por conta da genialidade forte dos dois. Mas, com a chegada de Audrey na família, que se tornou esposa de Eduardo, essa relação melhorou muito. Eduardo gostava de levar pai e namorada, na época, para jogos de quadra. Gilson jogava, mas depois reclamava que o restante do time jogavam mal. Uma grande alegria foi quando Eduardo se formou na Faculdade de Direito, falava pra todo mundo: "Meu filho é advogado!" todo orgulhoso!

Sarah, a segunda filha, era a cúmplice do pai. Ela declara, orgulhosa, que Gilson era seu companheiro. Conta que, quando ele recebia uma multa de trânsito, logo pedia para ela assumir a infração. Tudo para que a esposa Antonieta não descobrisse. Quando fazia muitas despesas no cartão de crédito, Sarah era a única que podia saber. Ele escondia suas peripécias de Antonieta, com o apoio da amada filha, e evitava, assim, ser repreendido.

Gilsão derreteu-se completamente quando Catarina nasceu, filha de Eduardo e Audrey. Ele a amava incondicionalmente. É unanimidade entre os familiares que ficou mais tranquilo e carinhoso com a chegada da neta. Fazia tudo por ela e lhe comprava vários presentes. O vovô Cabelo, como também era chamado, era o parceiro de Catarina para “comer besteiras o dia todo”, lembra a filha Sarah.

Gilson era bastante vaidoso e amava cortar os cabelos “que não tinha”. Seu divertimento, além da neta Catarina, era jogar bola e ficar em casa para assistir às partidas de domingo. Fiel ao Santos, era um torcedor caseiro, pois nunca foi a um estádio de futebol. Achava perigoso.

Gilsão era um homem trabalhador. Responsável pela manutenção de um grande banco por longo tempo, lá foi marceneiro, chaveiro e pintor. Amava a profissão e fazia questão de ajudar a todos. “Não gostava de deixar ninguém esperando”, lembram os familiares.

Dono de um coração fantástico, Sarah conta que Gilson sempre ajudou os filhos, fosse para pagar as mensalidades da faculdade, os custos dos casamentos, dívidas ou até as compras da feira.

Sempre solidário, fazia serviços de graça para os que não podiam pagar.

Gilson nasceu em Mariana (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelos familiares de Gilson, Antonieta, Sarah, Raphael, Eduardo, Audrey e Catarina. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Danielle Lorencini Gazoni Rangel, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 26 de maio de 2021.