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Givanildo Viana de Meneses

1973 - 2020

Marceneiro, hipnólogo, bacharel em Direito, era inquieto ante as possibilidades que a vida lhe reservava.

Foi o quinto de oito irmãos, um filho carinhoso, o amor de infância da sua esposa Josivânia e pai do Gabriel, da Gabrielly e do Antônio.

Desde jovem, o filho de Antônio da Conceição Meneses e Josefa Viana Menezes era engajado na política, mas deixou esse caminho na política partidária para o irmão Cristiano Viana e o tio Aloízio Viana. Aos 22 anos, foi para Santos (SP) aprender a arte da marcenaria. Seu irmão Antônio Júnior conta que, para Givanildo, a dificuldade era vista como um momento de fazer diferente. Quatro anos após a realização do seu sonho, convidou o irmão João Marcos para ir a São Paulo aprender também a arte da marcenaria. Assim iniciaram um ciclo marcante e profundo em suas vidas.

A vida foi dura, cheia de batalhas e dificuldades, mas nada desviou Givanildo e Marcos do sonho de criar a própria empresa. “Uma vez, ainda em São Paulo, eu estava namorando uma garota e nós saíamos muito. No final do mês, Ivan me chamou para prestar contas. Eu estava gastando demais com essa namorada. Então ele disse: ‘Você vai terminar esse namoro hoje! Não é amanhã não, é hoje! Desse jeito não vai dar certo, você não vai fazer as reservas que precisamos pra gente realizar nosso sonho. Um namoro desses não dá pra você’. E assim eu fiz”, relembra João Marcos, destacando o respeito e a cumplicidade cultivados entre eles.

Juntos, os irmãos Viana retornaram para Sergipe em 2003 e apostaram em uma nova fase de suas vidas, a empresa ArtPlan Móveis, em Lagarto (SE). Agora sócios, foram também marceneiros, polidores, faxineiros, vendedores da própria loja, até caírem nas graças do povo, ampliarem a clientela e se consolidarem no mercado moveleiro. “Foi tudo muito planejado. Ele era o cara que pensava, que tinha as ideias, e eu executava. A nossa parceria era dessa forma. Era mais que um irmão, era meu ídolo, me ensinou a profissão”, continua Marcos.

Planejador nato e ávido pelo conhecimento, Givanildo decidiu terminar o ensino médio quando retornou a Sergipe. Foi nesse momento que surgiu o desejo de conhecer mais sobre a mente humana, e assim trilhou caminho no estudo da hipnose. Através dela, auxiliou sobrinhos com a aprovação no vestibular; também realizava sessões com os funcionários da fábrica. Dedicou parte da sua vida a essa técnica.

Foi na Escola Estadual Dr. Milton Dortas, em Simão Dias (SE), onde estudou, que conheceu aos 12 anos Josivânia, que viria a ser a sua esposa. Juntos construíram uma história de 30 anos. Josivânia chegou a morar com Givanildo e João Marcos em São Paulo. “Ele era meu amigo, meu tudo. Não era somente um esposo. Era um ser de luz, e tudo que eu sou hoje foi por incentivo dele. Foi o grande amor da minha vida”, afirma a esposa. Foi muito dedicado ao trabalho, mas amava a família. Era bastante presente, dedicado e carinhoso com os pais, e sempre adivinhava o que os filhos queriam, era herói e exemplo para eles. Juntos tiveram Gabriel, agora em 2020 com 18 anos, Gabrielly Vitória com 8 e Antônio com 6. Eterno apaixonado pela esposa, Givanildo a enchia de elogios e mensagens durante os plantões.

Tinha o sonho de ter um Puma amarelo, uma de suas paixões, e assim o fez. Na companhia do irmão João Marcos, comprou a estrutura externa e reconstruiu o carro com as próprias mãos. Peça por peça, deu forma a mais um de seus desejos. Os irmãos contam que o Puma passava semanalmente por diversas oficinas, mas quando lhe foi oferecida ajuda, Givanildo agradeceu, negou e disse que assim não tinha graça em ter o carro. Ele mesmo queria consertá-lo, fazer e refazer os ajustes necessários. Não é surpresa que a saga cinematográfica “Velozes e Furiosos” seja a sua preferida.

Para a família e os amigos, era um ser humano fantástico, preocupado em fazer o bem àqueles que o cercavam, com grande coração e buscando sempre a melhor versão da vida. Gostava de passar o tempo livre assim, no sítio com os pais, com a família ou ajustando o Puma. Nos churrascos familiares, costumava falar aos irmãos: “Hoje eu não estou bebendo não”, brincando com o fato de nunca beber. No jantar em família, não podia faltar o cuscuz, um dos seus pratos preferidos.

Givanildo, Van, Ivan... A pluralidade não era somente nos apelidos. Extremamente planejador e executor, sempre buscava mais conhecimentos: foi marceneiro, hipnólogo e bacharel em Direito. Ivan estudava para a segunda fase da prova da OAB quando adoeceu. “Van não queria deixar de ser marceneiro, queria ser um marceneiro qualificado”, conta Júnior.

Ainda no hospital, tinha o sonho de ver o irmão Cristiano Viana tornar-se prefeito da cidade de Simão Dias. Sugeria conteúdos, auxiliava no que podia. “Acreditamos que tem dedo dele de lá do céu na vitória de Cristiano”, continua Júnior.

Givanildo costumava dizer: “O que importa não é o tempo, é a intensidade das coisas”. E foi assim que viveu: momentos intensos com memórias inesquecíveis. As lembranças que ficam são de um homem carinhoso, apaixonado pelos filhos, pela esposa, pela família e pelo Puma. Ávido pelo conhecimento, será lembrado com amor por todos que o conheceram.

Givanildo nasceu em Simão Dias (SE) e faleceu em Aracaju (SE), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos familiares de Givanildo, Antônio da Conceição Meneses Júnior, João Marcos Viana Meneses e Josivânia Neri Meneses. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Lorena Correia, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 4 de dezembro de 2020.