1934 - 2020
Não deixava ninguém passar fome e, enquanto cozinhava, tinha mania de assobiar cantos de louvor a Deus.
Gonçala jamais imaginou que viveria tempo suficiente para ter bisnetos. E viveu. O fato lhe causava tanto orgulho que sempre fazia questão de enfatizá-lo quando recebia visitas de amigas.
Se teve a oportunidade de experimentar essa alegria, com certeza foi uma retribuição do Universo pelo zelo que sempre teve com cada um da família.
Dizem que sua maior virtude era o amor, que ela sabia amar como ninguém e que cuidava mais dos outros do que de si.
Prova disso é que Gonçala não deixava visita passar fome. Quem chegava à casa dela era sempre recepcionado por algum prato. E reza a lenda que ela não sossegava até que a pessoa aceitasse comer alguma coisa.
Era assim com todos. Quando os filhos eram crianças, ela era só mimos. Apesar de levarem uma vida humilde, toda ida à feira era uma brecha para presenteá-los com alfenins, grudes e outras guloseimas.
A preocupação com os seus era tanta que, analfabeta, Gonçala media o pé de cada filho com fita, para não errar o tamanho na hora de comprar os sapatos.
Mesmo depois de crescido, ela fazia questão de colocar o jantar para o filho mais velho sempre que ele chegava do trabalho.
Na juventude, trabalhou em uma casa de farinha, época cujas memórias gostava de reviver. Também trabalhou como lavadeira antes de se aposentar e se tornar “dona de casa” em tempo integral.
Enquanto cozinhava, tinha mania de assobiar cantos de louvor a Deus.
Sempre foi muito ativa, até que teve Chikungunya. Desde então, intensificou seu gosto por programas de animais na televisão. Sempre pedia aos familiares para “colocar no canal dos animais”. E, seja no sofá ou cadeira de balanço, Gonçala assistia às atrações entre um cochilo e outro.
Foi casada com Chico Mossoró, e com ele teve seis filhos: José, Maria de Lourdes, Terezinha, Maria do Socorro, Francisco e Ana.
Amada por todos, foi amiga, companheira, amorosa, prestativa, fiel e honesta. Uma mulher humana e solidária, que nunca negou ajuda a quem precisava.
Gonçala nasceu em Boa Saúde (RN) e faleceu em Natal (RN), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela bisneta de Gonçala, Débora Fernandes Barbosa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Paludo, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de outubro de 2020.