1985 - 2021
Sempre que escutava a buzina do trem, Graci ficava eufórica para vê-lo.
Graciele foi uma menina especial em todos os sentidos, tinha uma risada linda, gostosa, que carregava uma alegria incomparável. Para ela, era como se no mundo não existisse maldade. Chamava todos a quem amava de "minha véia" e "meu véio".
"Para tudo o que se perguntava a ela a frase clássica de resposta era 'talvez', sempre acompanhada de uma gargalhada única", relembra a prima Karime.
Graciele é filha de Edson e Rosimar, e irmã mais velha de Júnior. Tinha paixão pelos três sobrinhos.
Toda a trajetória de cuidados com a saúde e a deficiência de Graci foi compartilhada por suas primas: Luana, que é fisioterapeuta, e Karime, que é enfermeira.
Amava dançar. Não podia ouvir um funk que se animava. Sua grande diversão era ficar na esquina da rua onde morava para observar as pessoas. E amava conversar.
"Ela gostava de estar no meio de pessoas jovens, de sair. Eu sempre tentava levá-la para alguma festa, para praças", conta Karime.
Durante uma época em que usou uma medicação forte no tratamento de sua condição de saúde, passou a só dormir, fazendo com que os amigos e parentes sentissem falta de toda a sua vitalidade. Porque onde ela chegava animava o ambiente. Era uma mulher cheia de vida, que apreciava cada segundo aqui.
Amava fazer aniversário e sempre dizia estar completando 15 anos. "Ela admirava a juventude. Queria namorar, mas era toda cheia de pudores", conta Karime.
Ficava hipnotizada com a aproximação do trem. "Um certo dia a coloquei no carro e saímos perseguindo os vagões. Ela dava gargalhadas de felicidade. Quando conseguimos ultrapassá-lo ela desceu do carro, olhou com aquele olhar intenso de criança deslumbrada e gritou 'Urhaaaa!'", conta Luana.
Com sua partida precoce o mundo perdeu um pouco do brilho. Dizem que as estrelas mais brilhantes são as que têm uma vida curta, mas elas exercem o papel principal na evolução da galáxia, porque quando se vão são multiplicadas em milhares de outras novas. Essa era Graci. Deixou um pouquinho de amor em cada uma das pessoas que tiveram o prazer de conhecê-la e amá-la.
Graciele nasceu em Campos Belos (GO) e faleceu em Catalão (GO), aos 36 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela prima de Graciele, Karime Cassia da Silveira Gondim. Este tributo foi apurado por Luma Garcia, editado por Luma Garcia, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 10 de fevereiro de 2022.