1983 - 2021
Pra estudar música, ia à igreja todas as tardes, de bicicleta, para as aulas — fizesse chuva ou sol.
Graziele cresceu junto da irmã, Daniele, e dos pais, Neusa Palmeira Alves e Luís Bueno Alves. A infância foi humilde. A adolescência, dura. Quando ela tinha 15 anos e a irmã caçula 10, as meninas perderam a mãe. Dali em diante, Gra, como Daniele chama a irmã, tornou-se uma referência. “Aprendeu a ser forte e a me fazer forte junto a ela”, resume Daniele. Generosa, estudiosa, jamais deixou os estudos de lado. Também não perdia as aulas de música, na igreja longe de casa. A igreja e a música foram o apoio que precisava para superar a perda da mãe. Jamais deixou de cuidar da irmã. As duas se tornaram mais amigas após a partida da mãe.
Gra fazia faxinas para ajudar em casa. Sempre feliz, encarava as dificuldades que a vida lhe trazia como desafios a serem superados. Na igreja aprendeu a tocar órgão e conheceu o futuro marido. “Quando ela namorava o futuro esposo e ele vinha de outra cidade para vê-la, em muitas ocasiões não tínhamos nada de bom para oferecer. Aí ela fazia faxina no sábado, o dia todo, pra pegar o dinheiro e fazer um bom almoço pra ele no domingo”, conta Daniele.
Graziele casou-se jovem, logo engravidou do primogênito, Vinícius, e foi tocando a vida com toda a humildade e generosidade que tinha em si. Dona de casa zelosa, gostava muito de cozinhar – até achava o ato de cozinhar um passatempo. Amava preparar a comida para a família e os amigos. “E como cozinhava bem”, recorda Daniele.
Gra perseguia – e alimentava – seus sonhos. E os levou adiante. Formou-se em História – sua outra paixão, além da música. “Muito inteligente, perspicaz e comunicativa, adorava falar horas e horas sobre história, política, música e filmes”, conta a irmã.
Esposa e mãe zelosa, seu maior medo era deixar os filhos órfãos, pois sabia o quão difícil para eles seria trilhar o caminho sem sua presença. Vinícius, o primogênito, conviveu mais com a mãe. A pequena Clarissa terá as lembranças dos primeiros anos de vida com Graziele.
Pessoalmente, queria muito passar em um Concurso Público. Estudava dia e noite, alcançou boas posições em alguns certames dos quais participou, mas não alcançou este sonho.
Daniele vai recordando da infância em Antonina, quando as dificuldades não eram maiores ou mais intensas do que a alegria de receber visita das primas e amigas... “Nossa vida com a Graziele foi muito feliz, feliz como ela sempre foi. Seguimos lembrando sua perseverança e força, da sua conquista que foi o diploma – a única da família a se graduar. Seu exemplo fica conosco e nos inspira para alcançar os nossos sonhos”, resume a irmã.
Graziele nasceu em Antonina (PR) e faleceu em Paranaguá (PR), aos 37 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Graziele, Daniele Palmeira Alves. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 3 de maio de 2022.